Pastor Marco Feliciano homofóbico e racista, faz vídeo para atacar oposição
Pastor Marco Feliciano completará 28/03
duas semanas à frente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da
Câmara dos Deputados. Até o momento não deu qualquer sinal de que
entende, ou pretende entender, o que afinal significam direitos humanos
ou direitos das minorias.
Quando assumiu o posto, em meio à
gritaria diante de tantos absurdos propagados contra quem pretende
representar, pediu um voto de confiança. O barulho continuou e ele
resolveu revidar. Nesta semana, publicou em seu perfil no Twitter um
vídeo, produzido pela WAP TV Comunicação, em que criminaliza abertamente
líderes do movimento LGBT, religiões afrodescendentes e militantes que
defendem, entre outras bandeiras, a regularização da prostituição e o
casamento igualitário.
O narrador, que não aparece, tem a voz
distorcida – como são distorcidas as ideias contidas em som e imagem. A
música ao fundo sugere terror e suspense. Numa espécie de bricolagem de
argumentos sobre defesa da família, apresenta cenas isoladas de tensão
durante protestos organizados por ativistas em reação a Feliciano. Por
exemplo: um estranhamento entre o líder da ABGLT no Brasil, Toni Reis,
durante uma discussão na Câmara, virou “agressão a idosos”. Outro alvo é
o deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ), ferrenho opositor de Feliciano, a
quem o vídeo tenta atacar mostrando à exaustão uma declaração do
ativista: “Os orixás me colocaram neste mandato”. Como se tivesse dito:
“sou Diabo 100% e não abro”. Para Feliciano, talvez seja a mesma coisa, a
se observar a exibição de um protesto de menções afrodescendentes,
classificado no vídeo como “ritual macabro”.
A aparente reação do deputado aos
protestos assusta pela precariedade dos argumentos e a oposição
maniqueísta assumida. O tom é sempre “nós” contra “eles” – sempre
atribuindo a “eles” o monopólio da truculência e um suposto projeto para
garantir privilégios, dinheiro público e perverter a sacralidade da
chamada “família”, entendida sempre como uma estrutura única,
indissociável, intocável.
Para reforçar os argumentos, usa títulos
de reportagens sobre violência contra gays do tipo “Lésbica mata
companheiro a facada” e “Travesti mata deficiente”. É a esquina
frutífera da ignorância midiática com a má fé religiosa – como se, do
outro lado, fosse possível ler notícias como “Hétero e madrasta jogam
criança de prédio em SP” ou “Hétero se junta a namorado hétero para
matar os pais, de família estruturada, a machadadas”.
Ao fim do vídeo, Feliciano avisa que
renunciará: à sua privacidade, às noites de paz e sono e aos momentos de
família para não renunciar à comissão e preservar a sua (nossa?)
família.
Não faltou um único argumento para
mostrar que o deputado é, provavelmente, a pessoa menos capacitada a
assumir o desafio da comissão: o desafio de ajudar a garantir a livre
manifestação de quem tenta viver sem traumas, sem o ônus da exclusão,
sem perseguições, piadinhas ou vergonha de ser o que é sem que alguém
diga como e com quem deve se relacionar para ter paz. Mas
Marco Feliciano faz de sua obsessão uma cruzada sob um argumento
invertido: a de que não é aceito pelo simples fato de ser cristão. Como
se fosse impossível ser cristão e estar em paz com o que se é; como se
em alguma passagem da Bíblia houvesse um manual de uso correto do
próprio corpo, da própria expressão; como se, ao subir aos Céus, Cristo
tivesse orientado a amar ao próximo como a ti mesmo com um asterisco: não vale amar homem com homem nem mulher com mulher.
Falta alguém explicar ao pastor,
possivelmente com um vídeo mais didático, que um líder na Câmara, de
qualquer comissão, pode ser cristão, judeu, budista, agnóstico. Só não
pode ser desonesto. E desonestidade não é só empregar no gabinete
funcionário fantasma. Ou ser acusado de estelionato. Ou reclamar quando
algum fiel de boa fé entrega um cartão de crédito sem a senha. A
desonestidade intelectual é a mais danosa das agressões praticadas por
quem tenta criminalizar grupos vulneráveis com sofismas e trilha sonora
de terror. Nada pode ser mais sintomático sobre as bandeiras
representadas pelo deputado – longe, muito longe da paz e a unidade tão
clamadas na Bíblia sobre a qual Feliciano se senta para espalhar o ódio e
o apelo à exclusão.
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