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segunda-feira, 6 de junho de 2011

Espiritismo: filosofia

1. INTRODUÇÃO
O objetivo deste estudo é mostrar que o Espiritismo — que é ao mesmo tempo Ciência, Filosofia e Religião — faz a síntese histórica da Filosofia. O nosso roteiro segue os seguintes passos: conceito, histórico, a atitude filosófica, os grandes problemas filosóficos e o Espiritismo.
2. CONCEITO
A origem do conceito de filosofia está na sua própria estrutura verbal, ou seja, na junção das palavras gregas philos e sophia, que significam "amor à sabedoria". Filósofo é, pois, o amante da sabedoria. Mas o que é a sabedoria? É um termo que significa erudição, saber, ciência, prudência, moderação, temperança, sensatez, enfim um grande conhecimento.
Na tradição mitológica, a sabedoria era um atributo dos deuses, que revelavam uma verdade apodíctica, evidente, não suscitando nem interrogações, nem dúvidas. A sabedoria era o dom de conhecer o desconhecido, o incompreensível e, principalmente, de prever o futuro, o destino. Os deuses, na hierarquia mitológica, renunciavam uma parcela de sua sabedoria em favor dos oráculos e de outros eleitos.
Enquanto a consciência do homem é dominada pela mitologia ele não interroga sobre o que é a sabedoria. Foi preciso que surgisse a Filosofia e, com ela, o questionamento do conhecimento aceito como evidente, a fim de que os mitos e as adivinhações cedessem lugar ao pensamento reflexivo. A partir daí, o simples "amor à sabedoria" vai ampliando-se com as contribuições dos vários filósofos, até chegarmos à complexidade da atualidade. (Oïzerman, 1978)
3. HISTÓRICO
Na própria Grécia Antiga o termo filosofia passou a designar não apenas o amor ou a procura da sabedoria, mas um tipo especial de sabedoria. Aquela que nasce do uso metódico da razão, da investigação racional em busca do conhecimento. Platão distingue a doxa, opinião, ou seja, o saber que temos sem tê-lo procurado, e a episteme, a ciência, que é o saber que temos porque o procuramos. Então, a filosofia já não significa "amor à sabedoria", nem tampouco significa o saber em geral, qualquer saber; senão que significa esse saber especial que temos, que adquirimos depois de tê-lo procurado e de tê-lo procurado metodicamente.
Durante a Idade Média o saber humano dividiu-se em dois grandes setores: teologia e filosofia. A teologia é o conhecimento acerca de Deus. A filosofia são os conhecimentos humanos acerca das coisas e da Natureza e até mesmo de Deus por via racional. Nesta situação a palavra "filosofia" continua designando todo o conhecimento, menos o de Deus. E assim adentrou muito o século XVII. (Garcia Morente, 1970, p. 26 a 29)
A partir do século XVII, o campo imenso da filosofia começa a partir-se. Saem do seio da filosofia as ciências particulares: as matemáticas, física, química etc. Assim, atualmente, a filosofia é uma ciência que estuda as leis mais gerais do ser, do pensamento, do conhecimento e da ação. É uma concepção científica do mundo como um todo, da qual se pode deduzir certa forma de conduta. (Bazarian, s. d. p., p. 37)
4. ATITUDE FILOSÓFICA
Atitude significa comportamento, postura, modo de proceder de uma pessoa. No âmbito da filosofia, são os questionamentos que fazemos com relação a nós mesmos, à vida, ao outro e ao mundo. Perguntamo-nos: por que existo? Qual a finalidade de minha existência? Como proceder em relação ao meu próximo? Devo ajudá-lo? Até que ponto?
Dentro de um estudo mais aprofundado da Filosofia, esta atitude pode ser resumida nos seguintes termos:
Dúvida - Estado do pensamento que, espontaneamente ou deliberadamente, não tem certeza de se adequar ao seu objeto (ou de que o seu objeto lhe seja adequado). (Legrand, 1986) Desconfiar da autoridade e não acreditar de imediato em tudo o que nos falam é um bom exercício.
Critica - Designa todo o estado de um juízo que vise estabelecer o seu valor ou a sua legalidade de ponto de vista lógico. (Legrand, 1986). Em termos do pensamento crítico, deveríamos passar tudo pelo crivo da razão. É por esta razão que se diz que é preferível rejeitar nove verdades a aceitar uma única como erro.
Reflexão, Volta atenta do pensamento consciente sobre si próprio que, tanto sob o ponto de vista psicológico como ontológico constitui a sua principal manifestação. Implica sempre uma "separação" da consciência de si própria, que indica talvez sua essência. (Legrand, 1986) Nesse sentido, devemos estar sempre remoendo as informações, ruminando aqui e ali para ver um outro ângulo da questão, buscando o aprofundamento e dando respostas corretas.
Contradição - Em lógica, chama-se proposições contraditórias a duas proposições que não podem ser simultaneamente nem verdadeiras , nem falsas. (Legrand, 1986) Quer dizer, devemos evitar a expressão dúbia das palavras. Ou seja: sermos coerentes com aquilo que falamos.
O verdadeiro filósofo não pode ser nem otimista, nem pessimista. Dever ver tudo como se fosse um problema que o obriga a pensar. Pensar não por pensar, mas com o vigor intelectual de descobrir a verdade. E para conseguir tal fim, deve adquirir uma postura desarmada, sem preconceitos e sem posições já assumidas anteriormente, isto é, deve estar permanentemente aberto aos novos acontecimentos.
5. ONTOLOGIA
Ontologia é a parte da filosofia que trata do ser enquanto ser. De acordo com J. Herculano Pires em Introdução à Filosofia Espírita, "O problema do ser empolga toda a História da Filosofia e podemos considerá-lo como o elo que mantém a união do pensamento religioso com o filosófico".
Diz-nos ele que o Ser, para Pitágoras, era representado pelo número 1; para Sartre, o Ser é uma espécie desses ovóides de que nos falam os livros de André Luiz; no marxismo e no neopositivismo é o ser humano o que importa. Deduz-se daí que o Ser é sempre, em qualquer sistema ou concepção, o mistério do Um e do Múltiplo.
Na Filosofia Espírita esse mistério se aclara através da revelação e da cogitação A revelação pode ser humana e divina. No caso é divina, pois reservamos para o campo humano a expressão clássica da técnica filosófica: a cogitação. Os Espíritos revelaram a existência do Ser pela comunicação mediúnica (e a provaram pela fenomenologia mediúnica), mas os homens confirmaram essa existência pela cogitação, pela pesquisa mental do problema.
Assim, cada criatura humana é um ser espiritual, mas é também um ser físico ou um ser corporal. A ligação entre o ser espiritual e o ser físico é feita através do corpo perispiritual. Desta forma, o ser não é apenas o Espírito, é também o perispírito e o corpo vital.
O correto, portanto, é dizer "Espírito fulano de tal" e não como a maioria diz "Espírito de fulano de tal. Expressando-nos com o prefixo de, dá-se a impressão que separamos o Espírito do corpo físico, o que não é uma verdade.
No que tange ao conhecimento do Ser Supremo (Deus), a Doutrina Espírita afirma que quando o nosso espírito não estiver mais obscurecido pela matéria, teremos condições de penetrar no mistério da divindade. (1983, cap. V)
6. TEORIA DO CONHECIMENTO
A maneira pela qual se adquire o conhecimento é de vital importância não só para a Filosofia como para todos nós.
De acordo com a tradição filosófica, há duas formas de se apreender o conhecimento:
1ª) a platônica ou socrático-platônica, que envolve a questão da reminiscência das idéias (conhecemos pelo Espírito);
2ª) a sofística ou empírica, que se refere apenas aos nossos sentidos (conhecemos pelos sentidos).
Aristóteles tenta conciliar essas duas posições antagônicas com a sua teoria do espírito formativo e do espírito receptivo.
Para Aristóteles, o espírito formativo era a própria alma humana procedente do mundo espiritual, não sujeita às influências do mundo exterior; o espírito receptivo, uma espécie de matéria em que se imprimem as sensações do mundo exterior. Para Aristóteles, as formas do mundo exterior se imprimem na matéria dos sentidos e dão forma a essa matéria.
Na Filosofia Espírita, a dualidade de espíritos da teoria aristotélica não existe. Isto porque os sentidos são apenas instrumentos de captação.
- o homem é essencialmente um espírito;
- espírito é substância do homem e o corpo seu acidente.
A percepção segundo a Filosofia Espírita é uma faculdade geral do Espírito que abrange todo o seu ser. O espírito é, pois, o grande conhecedor, é o princípio inteligente da Natureza, cuja faculdade perceptiva se desenvolve através de fases sucessivas: sensibilidade vegetal, animal e depois humana. O processo gnoseológico iniciado na era tribal se desenvolve através das fases anímica, mágica, mítica, mística ou religiosa, atingindo a científica ou racional e passando então à psicológica ou espírita. (Pires, 1983, cap. III)
7. AXIOLOGIA
Axiologia – do gr. axios, valor, valia e logos teoria. Termo muito usado atualmente para designar a teoria do valor, que investiga a natureza, a essência, e os diversos aspectos que o valor pode tomar na especulação humana. Teve início com Platão, na teoria das formas ou idéias subordinadas à forma do Bem, e desenvolvida posteriormente, por Aristóteles, pelos estóicos e epicuristas, que investigaram sobre o summum bonum (supremo bem). Na filosofia escolástica, o Summum Bonum é Deus. No século XIX, pela influência da Economia, da Sociologia e da Psicologia surgiram diversas doutrinas sobre a relatividade dos valores. (Santos, 1965)
A axiologia trata dos problemas de ética, estética, direito, política, escatologia etc. Allan Kardec no livro III (As Leis Morais) e no livro IV (Esperanças e Consolações) de O Livro dos Espíritos faz uma síntese de todos esses problemas. Diferencia-nos com muita clareza o que é o bem e o que é o mal; estimula-nos à prática da justiça do amor e da caridade; dá-nos, em fim, todas as coordenadas para uma atuação mais consciente no seio da sociedade em que somos obrigados a conviver.
8. CONCLUSÃO
A Filosofia Espírita é, e sempre será, a grande educadora do homem. Podemos, assim, afirmar que não existe nenhum outro processo tão revolucionário quanto o Espiritismo. Por que? Ele nos oferece as noções do "Ser" e seus deveres com relação a si mesmo, à família, à pátria e ao planeta em que habita. Aproxima-nos de uma verdade integral. De posse do conhecimento espírita, Já não mais pensamos parcialmente, mas como co-participantes de uma verdade maior, assumindo uma responsabilidade não só para com o Planeta em que vivemos como também para com o Cosmo que nos absorve.
9. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
BAZARIAN, J. O Problema da Verdade. São Paulo, Círculo do Livro, s. d. p.
GARCIA MORENTE, M. Fundamentos de Filosofia - Lições Preliminares. 4. ed., São Paulo, Mestre Jou, 1970.
KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed., São Paulo, FEESP, 1995.
LEGRAND, G. Dicionário de Filosofia. Lisboa, Edições 70, 1986.
OÏZERMAN, T. Problemas da História da Filosofia. Lisboa, Livros Horizontes, 1978.
PIRES, J. H. Introdução à Filosofia Espírita. 1.ed., São Paulo, Paideia, l983.
SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed., São Paulo, Matese, 1965.
São Paulo, novembro de 1996

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