Os Etruscos eram um aglomerado de povos que viveram na península Itálica na região a sul do rio Arno e a norte do Tibre, mais ou menos equivalente à atual Toscana, com partes no Lácio e a Úmbria. Eram chamados Τυρσηνοί, tyrsenoi, ou Τυρρηνοί, tyrrhenoi, pelos gregos e tusci, ou depois etrusci, pelos romanos; eles auto-denominavam-se rasena ou rašna.
Desconhece-se ao certo quando os Etruscos se instalaram aí, mas foi provavelmente entre os anos 1200 e 700 a.C.. Nos tempos antigos, o historiador Heródoto acreditava que os Etruscos eram originários da Ásia Menor, mas outros escritores posteriores consideram-nos italianos. A sua língua, que utilizava um alfabeto semelhante ao grego, era diferente de todas as outras e ainda não foi decifrada, e a religião era diferente tanto da grega como da romana.
A Etrúria era composta por cerca de uma dúzia de cidades-estados (Volterra, Fiesole, Arezzo, Cortona, Perugia, Chiusi, Todi, Orvieto, Veio, Tarquinia, Fescênia, etc.), cidades muito civilizadas que tiveram grande influência sobre os Romanos. A Fescênia, próxima a Roma, ficou conhecida como um local de devassidão. Versos populares licenciosos, na época muito cultivados entre os romanos, ficaram conhecidos como versos fesceninos (obscenos).
Os últimos três reis de Roma, antes da criação da república em 509 a.C., eram etruscos. Verificaram-se prolongadas lutas entre a Etrúria e Roma, terminando com a vitória desta última nos anos 200 a.C..
Apogeu e decadência
Cidade de Bagnoregio, de origem etrusca. Esta estrada foi, outrora, a principal via de ligação com o rio Tibre e Roma.Por volta de 850 a.C., os etruscos já estavam estabelecidos na região da Etrúria, entre os rios Arno e Tibre, a oeste e sul da cadeia dos Apeninos. Nos três séculos posteriores difundiram seus domínios submetendo os povos locais, ocupando vastas áreas da planície do rio e fundaram cidades que existem até hoje. Em direção ao sul, tomaram Roma - então uma aglomerado de aldeias - e transformaram-na em uma cidade cercada de muros. Acredita-se que os Tarquínios - uma dinastia de reis etruscos - governaram Roma por volta de 616 a.C. a 509 a.C.
Durante o processo de expansão, os etruscos atingiram até a região da Campânia, onde fundaram Cápua que, desde o início do século VI a.C., representou um centro comercial capaz de rivalizar com as colônias vizinhas gregas: Cuma e Neápolis (Nápoles). Por volta de 540 a.C., aliados aos cartagineses, derrotam os Fócios da Córsega. Essa vitória assegurou-lhes o controle da ilha e marcou o apogeu da expansão territorial.
Entretanto, os etruscos foram expulsos de Roma pelos latinos em 509 a.C.; tiveram sua fronteira destruída pelos gregos de Siracusa e Cuma em 476 a.C.; em 424 a.C. perderam a Campânia para os samnitas e, logo a seguir, o vale do rio Pó foi ocupado pelos celtas. Em 396 a.C., com a tomada de Veius, os romanos incorporaram ao seu território o que restava da Etrúria.
Origens
Cabeça de guerreiro (Necrópole de Crocifisso del Tufo, Orvieto, Itália)A origem dos etruscos permanece uma incógnita, embora existam várias teorias a respeito. Duas delas são as que têm maior peso:
1.A teoria orientalista, proposta por Heródoto, que crê que os etruscos chegaram desde Lídia por volta do século XIII a.C.. Para demonstrá-lo baseiam-se nas supostas características orientais da sua religião e costumes, bem como que se tratava de uma civilização muito original e evoluída comparada com os seus vizinhos.
2.A teoria de autoctonia, proposta por Dionísio de Halicarnasso, que considerava os etruscos como oriundos da península Itálica. Para argumentá-la, esta teoria explica que não há indícios de que a civilização etrusca tenha se desenvolvido em outros lugares e que o estrato lingüístico é mediterrâneo e não oriental. Em suas Antiguidades Romanas (livro I, capítulo 25) Halicarnasso considera que "(...)o povo etrusco não emigrou de parte alguma e sempre esteve aqui"..
Outra teoria, já descartada, foi a de uma origem "nórdica", defendida em finais do século XIX e primeira metade do século XX; era baseada somente em parafonias, na similitude da sua autodenominação (rasena) com a denominação que os romanos deram a certos povos celtas que habitavam a Norte dos Alpes, no atual Leste da Suíça e Oeste da Áustria: os ræthii ou réticos.
A teoria atualmente mais fundamentada de certa forma sintetiza as de Heródoto e Dionísio de Halicarnasso: considera-se, por vários traços culturais (por exemplo, os alfabetos), um forte influxo cultural derivado de alguma migração procedente de sudoeste de Anatólia, mais precisamente desde o território que os gregos chamaram Karya (Cária), tal influxo cultural ter-se-ia estendido sobre povos autóctones situados na que atualmente é a Toscana Talvez as respostas se encontrem na cultura de Villanova, representada por cerca de 100 tumbas encontradas na povoação de Villanova de Castenaso, em Bolonha, possíveis antecedentes da cultura etrusca. Por volta do século VII a.C. existiam doze cidades-estado independentes que se atribuem a Tarcão, filho ou irmão de Tirreno.[1]
Esta tese da origem oriental dos etruscos é a mais conhecida na Antiguidade, tanto que os poetas latinos, principalmente Virgílio, designam frequentemente os etruscos pelo nome de Lydi.[1]
os gregos e os romanos foram os primeiros a se interrogarem sobre a origem dos etruscos. No início, Heródoto situa a origem dos etruscos na Lídia (na atual Turquia). Segundo Heródoto, depois de um período de dificuldades e grande fome (vinte anos), um rei confiou ao filho, Tirreno, a missão de levar o seu povo para uma terra produtiva. Estes lídios conseguiram chegar à Itália e foram denominados de Tirrenos. Os elementos míticos dessa lenda, a fome, a partida para um lugar desconhecido, eram comuns neste gênero de relatos.
No seu apogeu (século IV a.C.) um extraordinário desenvolvimento político, social e artístico levou os etruscos a controlar vastos territórios (da planície do rio Pó até o golfo de Salerno). A região onde prosperaram, entre o Arno e o Tibre se chama Toscana por causa do nome que tinham em latim, Tusci. O mar que banha a costa da região se chama Tirreno, termo derivado de Tirrenoi, como os gregos denominaram os etruscos.
Até o século VIII a.C., a Toscana era povoada por cidades de cabanas humildes que indicam a vida modesta de sua população. Talvez por isso, o fascínio pela busca da origem de um povo de língua incomparável e que vivia com refinamento.
Organização política e social
Sarcófago etrusco, Museu BritânicoPoliticamente, a Etrúria era organizada em federações de doze cidades unidas por laços estritamente religiosos, o que é chamado Dodecápolis, mas esta aliança não era política, nem militar e cada cidade era independente.
A estrutura política é, a princípio, a de uma monarquia absoluta, onde o rei (lucumo) distribui justiça, age como sumo-sacerdote e comandante em chefe do exército. Depois se dá uma transição onde o governo é uma ditadura de corte militar, a qual termina numa república, em essência oligárquica, com magistraturas colegiadas, um senado forte e estável e a participação de uma assembléia popular em representação do povo.
Na pirâmide social etrusca podemos distinguir quatro escalões:
Em primeiro lugar estavam os terratenentes, membros da oligarquia.
Plebe livre, ligada por laços de clientela aos anteriores.
Estrangeiros, geralmente gregos, que eram artesãos e mercadores.
Por último, escravos. Os etruscos tinham uma grande quantidade de escravos para serviço doméstico e agrário.
A família e o papel da mulher
Estatueta funerária de Chianciano, século V a.C., Museu Arqueológico de FlorençaA mulher etrusca, ao contrário da grega ou da romana, não era marginalizada da vida social, senão que participava ativamente dos banquetes, nos jogos ginásticos e nas danças. Esta situação social da mulher entre os etruscos, muito mais livre que entre gregos e romanos, fez que gregos e latinos considerassem "promíscua" e "licenciosa" a cultura etrusca; entre helenos e latinos as mulheres estavam absolutamente subordinadas aos varões.
A mulher ademais tinha uma posição relevante entre os aristocratas etruscos, pois que estes últimos eram poucos e amiúde estavam envolvidos na guerra: por isto, os homens escasseavam. Esperava-se que a mulher, em caso de morte do marido, assumisse a tarefa de assegurar a conservação das riquezas e a continuidade da família. Também através dela transmitia-se a herança.
Líderes etruscos conhecidosOsiniu (em Clusium) provavelmente em princípio do século XI a.C.
Mezentius (1100 a.C.)
Lausus (em Caere)
Tyrseos
Velsu (século VIII a.C.)
Larthia (em Caere)
Arinestos (em Arinus)
Lars Porsena (em Clusium) finais do século VI a.C.
Thefarie Velianas (em Caere) finais do século V a.C. – princípio do século IV a.C.
Aruns (em Clusium) por volta de 500 a.C.
Volumnius (em Veii) em meados do século IV a.C.–437 a.C.
Lars Tolumnius (em Veii) finais do século IV a.C.–428 a.C.
Tarquinius (século IV a.C.)
Relações com outros povos (aliados e inimigos)
Povos da península Itálica no princípio da Idade do Ferro
██ Ligures
██ Veneti
██ Etruscos
██ Picenos
██ Úmbrios
██ Latinos
██ Oscos
██ Messápios
██ Gregos
Durante toda a existência da sua civilização, os etruscos foram um povo comerciante, principalmente marítimo, embora também terrestre. Por outro lado, as suas terras viram-se invadidas várias vezes por povos bárbaros já que as suas cidades eram muito ricas e cobiçadas, eram passo obrigado para as férteis terras da Campânia e para chegar a Roma (como ocorreu, por exemplo, com a invasão de Aníbal).
A princípio aliaram-se e repartiram as zonas de influência marítima com os fenícios, contra os helenos. Por volta do século IV a.C. estreitaram relações com Corinto e cessou a hostilidade com os gregos. Contudo, em 545 a.C. aliaram-se com os cartagineses novamente contra os gregos.
Teve numerosos inimigos. Desde um princípio, a Liga Latina (com Roma de aliada ou à frente da mesma), no Lácio; na Campânia os samnitas; nas costas e ilhas os siracusanos e cumitas e nas planícies do Pó os povos celtas seriam inimigos da Etrúria. Apenas conservariam como aliado incondicional, durante toda a história desta civilização, os faliscos (povo que ficava a Oeste do Tibre).
Por volta de 300 a.C., aliaram-se com os helenos contra cartagineses e romanos, pelo controlo das rotas comerciais.
Ao redor de 295 a.C., uma liga de etruscos, sabinos, umbros e gauleses cisalpinos combateu contra Roma, saindo esta última vitoriosa. Contudo, em sucessivas alianças temporárias com os gauleses continuaram lutando contra os romanos, até ter lugar uma aliança com Roma contra Cartago. Após isso, os etruscos, já em decadência, começaram a ser absorvidos pelos romanos.
O etrusco é uma língua aparentemente não aparentada com as línguas indo-européias. É de salientar que a fonética é completamente diferente da do grego ou do latim, embora influísse neste em vários aspetos fonéticos e léxicos. Caracteriza-se por ter quatro vocais, /a/, /e/, /i/, /o/, redução dos ditongos, tratamento especial das semivogais. Nas consoantes carecia da oposição entre surdas e sonoras, embora nas oclusivas tinha contraste entre aspiradas e não aspiradas.
AlfabetoO etrusco utilizava a variante calcídica do alfabeto grego, pelo qual pode ser lido sem dificuldade, embora não compreendido. Deste alfabeto grego básico, algumas das letras não eram utilizadas em etrusco (as oclusivas sonoras) e ademais acrescentavam um grafema para /f/ e a digamma grega utilizava-se para o fonema /v/ inexistente em grego.
As principais evidências da língua etrusca são epigráficas, que vão desde o século VII a.C. (diz-se que os etruscos começaram a escrever no século VII a.C., mas a sua gramática e seu vocabulário diferem de qualquer outro conhecido do mundo antigo) até princípios da era cristã. São conhecidas cerca de 10.000 destas inscrições, que são sobretudo breves e repetitivos epitáfios ou fórmulas votivas ou que assinalam o nome do proprietário de certos objetos. Além deste material, contamos com alguns outros testemunhos mais valiosos:
numeral cinco etrusco1.O Liber Linteus ou texto de Agram é o texto etrusco mais extenso com 281 linhas e umas 1.300 palavras. Escrito num rolo de linho, posteriormente foi cortado a tiras e utilizado no Egito para envolver o cadáver mumificado de uma mulher nova; conserva-se atualmente no museu de Zagrebe (provavelmente quando isto sucedeu considerava-se que tinha mais valor o rolo de linho que o próprio texto, que paradoxalmente hoje é nosso melhor testemunho da língua; talvez se não tivesse sido conservado como envoltura nem sequer teria chegado até nós).
2.Alguns textos sobre materiais não perecíveis como uma tabela de argila encontrada perto de Cápua de cerca de 250 palavras, o cipo de Perugia (ver foto) escrito por duas caras e com 46 linhas e cerca de 125 palavras, um modelo de bronze de um fígado encontrado em Piacenza (cerca de 45 palavras).
3.Além destes testemunhos temos duas mais inscrições interessantíssimas: a primeira delas é a inscrição de Pyrgi, encontrada em 1964, sobre lâminas de ouro que apresenta a peculiaridade de ser um texto bilíngüe em etrusco e púnico-fenício e que ampliou consideravelmente nosso conhecimento da língua. A segunda das inscrições resulta algo intrigante, já que foi encontrada na ilha de Lenos (N. do mar Egeu, Grécia). Composta de 34 palavras, parece escrita num dialeto diferente dos encontrados na Itália, quer seja sintomático da presença de colônias etruscas em outros pontos do mediterrâneo, quer de uma língua irmã do etrusco, o lénio, embora se acredite que a presença de uma só inscrição não aclara grande coisa.
Seguramente a inscrição de Pyrgi é a única inscrição etrusca razoavelmente longa que podemos traduzir ou interpretar convenientemente graças a que o texto púnico, que parece ser uma tradução quase exata do texto etrusco, é perfeitamente traduzível. Quanto ao acesso às inscrições: a maioria de inscrições etruscas conhecidas e publicadas encontram-se recolhidas no corpus inscriptionum etruscarum
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