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segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Poesias da guerrilha do araguaia.













Poesias da Guerrilha do Araguaia

Por Libério de Campos 29/09/2004 às 13:36





Estas poesías foram feitas provavelmente pelos guerrilheiros do Araguaia. Sua primeira publicação parcial se deu em 1979 no jornal “Resistência”, do Pará. Segundo Luiz Maklouf, responsável pela sua publicação, elas foram enviadas em 1976 ao jornal “O Estado do Pará” onde trabalhava. Sabendo que jamais seriam publicadas por este jornal, ele guardou-as cuidadosamente até que houvesse condições de edita-las.



Poesias

da Guerrilha

do Araguaia









Libério de Campos



































Homenagem ao segundo aniversário

da resistência armada

das

forças guerrilheiras do Araguaia































APRESENTAÇÃO





Estas poesías foram feitas provavelmente pelos guerrilheiros do Araguaia. Sua primeira publicação parcial se deu em 1979 no jornal “Resistência”, do Pará. Segundo Luiz Maklouf, responsável pela sua publicação, elas foram enviadas em 1976 ao jornal “O Estado do Pará” onde trabalhava. Sabendo que jamais seriam publicadas por este jornal, ele guardou-as cuidadosamente até que houvesse condições de edita-las. Os pais de uma das guerrilheiras, quando estiveram na região procurando obter informações do paradeiro da filha, mantiveram contato com o jornal Resistência e conseguiram trazer uma cópia completa das poesias.

Quem as lê percebe que, de fato, foram feitas por pessoas muito intimas da Guerrilha. O prefácio original – “Cantar é preciso”, escrito todo no plural, contradiz a assinatura de um único autor no final do mesmo. “Libério de Campos” pode ser, inclusive, uma alusão dos autores aos objetivos de sua luta – “Liberdade-Camponeses”. No próprio prefácio o seu inicio diz claramente-“há dois anos, guerrilheiros no Araguaia” – situando os autores. Enfim, a própria maneira que chegou, enviada pelo correio para “O Estado do Pará”, sem maiores explicações, sem remetentes, sem nada, reforça ainda mais nossa hipótese.

Duas poesias chegaram até nos trazidas por um exilado na Suécia, pois vários materiais dos guerrilheiros foram publicados em revistas de lá. São elas: A HELENIRA RESENDE e alguns fragmentos de ESCUCHA LA VOZ DEL ARAGUAIA.

Estas poesias são de imenso valor para nos. Primeiro por ser um resto de vida, do coração de nossos entes queridos, perdidos de forma tão bárbara na Guerrilha. Depois, pelo seu valor histórico, pois constituem sem duvida um material precioso para o estudo da guerrilha, das aspirações dos guerrilheiros, de como encaravam a luta.

Sendo assim, decidimos publica-las, pois sabemos de nossa responsabilidade na tarefa de resgatar a memória de nossos filhos, pais, irmãos, maridos, que participaram da guerrilha do Araguaia. Mantivemos na integra o caderno, conforme chegou-nos às mãos. O desenho de capa é também do original enviado ao “Estado do Pará”.







FAMILIARES

DE MORTOS DESAPARECIDOS

NA GUERRILHA DO ARAGUAIA.



JULHO DE 1980





CANTAR É PRECISO









Um dia lembramos. Há quase dois anos, guerrilheiros do Araguaia. Há quase dois anos lutando. Contra a miséria. Contra a opressão. Contra o meio adverso, no meio da selva, lutando.

E a guerrilha vive. Lâmpada acesa na noite (há quase dois anos), vive. Apesar de insidias latifundiárias. Apesar dos tecnocratas. Dos beliciosos. Dos trustes, dos monopólios. Apesar dos generais. Senhores da terra e da guerra, donos do fogo e do lôgro. Apesar – e por causa deles – a guerrilha vive. E corre como um regato noviço, para os rios da manhã.

Vitórias foram conseguidas. Há quase dois anos, ali e além, cresce a resistência popular. O povo percebe. O povo aspira no ar um sopro de novo em tudo isso. E descobre. E se move. E resiste. E pouco a pouco se forja em coisa única, indivisível.

E nos, que temos feito diante disso? Os que sabem o tempo não podem ficar a margem, assistindo apenas. Decerto por fuzil e decreto é proibido cantar. Mas cantar é preciso. Quando ainda não o grito, seja o balbucio. Se não a palavra aberta, o amplo segredo. Nunca no entanto, o silêncio. Dizem que o silêncio é de ouro. Mas de quem esse ouro? Sabemos que não do povo. Para nós o silêncio é podre. E cantar é preciso.

Pensando nisso é que organizamos este caderninho. Revelação artística e talvez o que de menos se mostra aqui. Tampouco é áspero o canto conforme o momento. Guiou-nos porém, mais que tudo, à vontade de dizer. O desejo de quebrar as vidraças do silêncio.

Esperamos que essa nossa iniciativa – apenas débil sussurro – possa, de outros lábios, desentranhar, mais firmes, afirmações de esperança, cantigas de alvorecer. E, numa livre reação em cadeia, que as palavras se lavrem, se elevem, se multipliquem.

Este trabalho é, pois, dedicado a todo o povo brasileiro; a todos os que, de alguma forma, se batem pela liberdade, e principalmente ao povo e as forças guerrilheiras do Araguaia, pela sua brava resistência patriótica, de onde já saltaram para a história verdadeiros mártires e heróis, a exemplo de Bengson Gurjão, Quelé e Helenira Machado.











Libério de Campos

Fevereiro de 1974











Silhuetas

















1. cidade grande



à sombra

dos arranha-céus

plantam-se

as favelas











2. campo



no tempo

sempre-gerúndio

o latifúndio



escravizando

léguas

éguas

e homens







Palafitose









entre mar e rio

entre terra e água

onde o mar começa

e onde o rio acaba

sujo cego e negro

vem o caranguejo

e faz sua casa



reina o caranguejo

sobre os seus domínios

peixe de vazante

retrogrado e vivo

até que outros bichos

- pouco mais que bichos –

rasteiros, sem asa

tangido dos matos

vem tomar-lhe a casa

e roubar-lhe status



entre nada e tabuas

entre lama e lixo

entre homem e bicho

bob um céu de lata

onde ao mar o rio

vem beijar sombrio

com seus beijos d’água

vem o sertanejo

sujo cego andejo

e faz sua casa



não é mar: maré

não são verdes linfas

nem cantigas limpas

sob um sol qualquer

são cachorros podres

são odores fortes

é a matéria viva

parceirando a morte

é o dia no mangue

que é a própria noite



é um risco de sangue

é um sangue sem tinta

são trinta misérias

sempre nunca-extintas

é uma vida pouca

de bocas famintas

é uma vida parca

de maré vazante

de maré distante

das marés distintas



é uma flor soturna

morna, suja mágoa

cuja dor não pinta:

quando sobe a água

sempre é maré baixa

pois não enche – incha



não é mar: maré

noite susto lodo

onde o homem todo

da cabeça ao pé

fica sendo peixe

fica sendo parte

(com fogo e sem fé)

desse movimento

quieto cauto lento

que de mar não é





Verso & Reverso











uma a cidade propriamente dita

outra a desdita propriamente



palacetes

palafitas



são duas cidades em coexistência patífica

outra pela uma dirigida ou seja digerida



são duas salas/duas telas



uma sala

kodak do turista

capa de revista

cartão postal



uma cela

vala comum de

perícia policia

noticia policial



são duas salas/duas alas

dois bocados e só um dente



ala-gente

ala-gados









O Finado Joaquim







de morte não identificada

morreu Joaquim Ribeiro



foi de bala? Foi de bile?

foi de policia ou grileiro?



eram dois sem documento

a morte e seu posseiro





sua mão floriu na terra

mesmo sem ter foro ou posse

posseiro que foi da gleba

fez-se posseiro da morte



dono de nada na vida

nem da morte o é deveras:

morte assim sem folha escrita

quem pode ser dono dela?



morreu Joaquim, posseiro

quem nem possui a terra



e hoje, de corpo inteiro

é possuído por ela



morreu Joaquim Ribeiro

e isso é tudo o que sei



sua vida foi fora da vida

sua morte, fora da lei

RETRATO











ali vai, desengonçado

e impróprio na vertical

se não cai, vertiginoso

é o seu sustento a si mesmo

com tanta tendência ao chão



às vezes possui altura

nunca tronco nem raízes

mas alto ou baixo não muda

é sempre a mesma figura

de cortes sem cicatrizes



não é branco porém bronco

que a fome e o sol tropical

não vão passar pelo corpo

deste ser vivo (mas oco)

sem deixar-lhe o seu sinal



é frágil porém fortíssimo

no seu traçado inumano

não tem cultura de livro

mas de germe e é seu nome

talvez Floro Bacteriano



seu olhar de cabra morto

vê bem como cabra viva

porém nunca sabe ao certo

se o que vê é longe ou perto

se é sinal de morte ou vida

seu gesto de não presença

é de uma nau a deriva

ou mesmo o de um não ao prumo

sendo o seu vulto em resumo

uma foto em negativa



este faz-se de encomenda

fome a fome se fabrica

para ser entregue a morte

que dia a dia o persegue e

cobra a prestação de-vida



este não será herói

de novela nem de sei

pois nele uma coisa rói

o clássico dom de amar

como os heróis de gibi



este não terá estatua

nem qualquer proclamação

deixará apenas rastos

ou restos de vidas: filhos

que algum dia tão de rastos



hão de erguer-se



e explodirão











VIDA VIVIDA

















a) jogo de contrários















o pão

o pau



o arroz

o arrocho



a fala

o cala



a mão

o não





















b) tempo















dia a dia

adiado



na boca do fuzil

dialogado



mês a mês

sob a usura

desmesurada



ano a ano

desenganado





















c) carências















sem saldo

nem soldo



sem vaga

nem paga



sem voto

nem veto



sem voz

nem vez



sem ter

nem ser





















d) desacato















vida sem sucesso

vida sem sossego

vida de morcego

vida com nó cego



preciso é desatar



quem desata a vida

desacata a morte

desfere a dor-ferida

contra quem o corte



preciso é ser-se forte



O INÍCIO







Na avenida quase escura

palavras pisoteadas

pelas patas dos fuzis



gemidos



silêncio



mas no útero negro

do silêncio

surgem larvas

rugem lavras



de fuzis



(outros fuzis)



na mente mansa do povo

como um sonho gradativo

duras sementes de fogo

em larga semeadura



e um dia (noite ainda

fome fúria)

fuzis lhe explodem nas mãos



fuzis

- as frutas maduras



e há luta a luta A LUTA



ABRIL







nem tudo

é ludo



quando abril

nos desce



nem tudo

é luto



quando abril

floresce



nem tudo

é susto



quando abril

se tece





1792 : a corda, o patíbulo

(a história tece

o seu fio) :



tomba o valente alferes



e abril?

e abril, que nos traz então?



- lição













1964 : bandidos

assaltam o sono e

sonho do povo :



o medo ruge nas praças



e abril?

e abril, que nos traz

então?



- prisão











1972 : como toda noite funda

é esperança

de manhã



no Araguaia raia a luta



e abril?

e abril. que nos traz

então?



- clarão

















MARABÁ, MAR-ALÉM





- meu irmão, onde a guerrilha?

nas Filipinas, manilha?

em terras que o mar não tem?



em Bagdá?

mar-além?



se aqui é paz maravilhosa

se a guerra aqui não faz ilha

onde a guerrilha está? em



Bogotá?

Jerusalém?



onde a garra das guerrilhas?

está nas ilhas, Antilhas

ou ventos que aqui não vem?



em al-di-lá?

phonm penn?



onde o povo sabe a trilha?

além das duzentas milhas?

além do sol? mais aquém?



no kohoutek?

no além?



- não, amigo, a tal guerrilha

está no mar, sobre as ilhas

e aqui bem perto também:



em marabá,

mar-aquém



EH MARABÁ



Eh Marabá

Um canto rebelde a teus fuzis!



Um canto global

Cheirando a ar de madrugada

Um canto dessa gente brasileira

De arrastão arrastando rede

Barcaça subindo e descendo rio

Um canto de enxada e suor na terra

Aboio dolente ninando a noite

Um canto

Dessa gente apressada das cidades

Poluído com fumaça

Chaminés e cirenes de fabrica



Eh Marabá

Norte, bússola, bandeira

Estrela da manhã

Carta de marear



O teu povo se integra em ti!



Eh Marabá

Do fundo da noite

Da impotência do braço

Longos anos te esperamos!

Mas hoje sabemos

Que o teu braço de oprimido

É maior que o Empire State

Que o clarão de mil napalms

Devastando o matagal



Norte, bússola, bandeira

Estrela da manhã

Carta de marear

Eh Marabá



Os oprimidos aprendem o caminho!





CANTO DE AMOR





AOS GUERRILHEIROS DO ARAGUAIA









1.











não

nas vossas mãos

não tendes fuzis



tendes clarões

estrelas

pedaços de manhã



as vossas armas

são como archotes

combatendo a noite



e porque

acendeis o dia

nós vos amamos



















2.











nós vos amamos

- que é preciso

o mais cedo

madrugar



mas rompa-se

à distância

este nós-e-vós

que nos parte em dois;



não há distância

quando a noite é uma



quando sobre todos

pesa a mesma bruma



quando sobretudo

a ordem é lutar



POEMA PARA HELENIRA











1.







uma mulher

se tece em

cardos

cordas



c-ordeiras aspirações.



assim é

assim quer



o dono da noite



mas



uma mulher é

capaz

de paz



e de guerra



uma mulher



2.







uma mulher

desfaz-se de

cordas

e

coisas

mais graves



e se faz em ave

e vos e vai e voa

acima

de si



- para o sol





e livre

leve

livre,



isenta dos nossos

vossos



estreitos compr-omissos



ela fere a noite

pois prefere o sol



O SOL



Eis o que ela mira

HELENIRA



3.







Ave, helenira



os que vão lutar te saúdam!

o povo, o teu povo te saúda

e inscreve no peito

em secreta caligrafia

o teu nome

que é VIVO

e SEMPRE



ave, mulher – helenira e ira –

porque

além da morte

estás viva

e cantas dentro de nós

muito mais forte que nós

o teu brado de

vida:



esta fome de luz

esta certeza

este gosto de fogo



que nos equilibra



4.







hoje

(por enquanto)

- noites ásperas

duro silêncio –



podemos apenas

o canto tímido

de teu nome



amanhã



porém



rosas vermelhas

germinarão de teu sangue



e num dia de sol e vidro

cantaremos

aos quatros ventos

tua canção de justiça









AOS NATIVOS













quisera ser cantador

de verso ardente e ligeiro

para cantar, lutador –

flor do povo brasileiro,

tua luta e tua dor

no vão desse mundo inteiro



quisera ser violeiro

violeiro do sertão

pra dizer ao povo inteiro

da terra seca e da praia

o teu valor, meu irmão



e dizer que tens na mão

o sol que afinal já raia,

madeireiro ou seringueiro

lavrador ou castanheiro,

guerrilheiro do Araguaia





QUELÉ











quem é? Quelé, guerrilheiro

na selva enfermo: malária

soldados chegam que fazem:

dão-lhe faca bala escárnio



quelé se esvaindo em sangue

sobre o dorso do cavalo

cada gota uma palavra

- liberdade!



quase mudo quase morto

torto de tanta tortura

boca amarga vista escura

- liberdade!



sua voz tecida em aço

perpassa campo e cidade

quelé morto mas no espaço

- liberdade!

- liberdade!





MARIA LÚCIA, JOVEM COMO NÓS













A.















maria Lúcia

lúcida –

jovem como nós



teus vintes

tão verdes anos

tombados (sem flor)

em maio

terão sido por nada,

maria?



e o sumo das tardes rósseas

e as florações da alegria

e a vontade de cantar,

maria?

























B.

















ah, maria

mas tu bem soubeste

que é proibido cantar



e tardes

flores

cantigas



são matéria de muita busca

e busca de muito lutar

tu que sentiste o teu povo

tu bem soubeste

da nossa agreste

colheita

feita

se sabre e espinhos

























C.



















para dizer-te amor

precisaríamos

talvez

de chorar

banhar de sal

este chão de guerra



mas o pranto

apenas nos traria

o amargo consolo

dos vencidos

e o pranto

não faz sentido

































D.





















então, maria

este poema é

somente para te dizer



que o teu sangue circula

também em nós

(somos jovens)



e aquece os nossos motivos

e levanta os nossos braços

para a luta



E.













haveremos de cortar

as asas do pesadelo



e um dia feitores

do medo



ao povo

- enfim soberano –



hão de saldar estas dores

e estes grilhões de silêncio



esses que urdem sua fúria

contra a nossa mocidade

esses serão

a escória

dos tempos que hão de vir



mas tu que jazes na terra

por ter buscado a alegria,



reviverás noutras guerras

- as guerras dentro de nós

que nos impelem para a frente

e dão força a nossa voz






























e porque é de todos esta briga

ela se abriga

na ação e no coração

de nossa gente inteira



não: tua morte

não foi vã



maria Lúcia, lúcida estrela



nossa amiga e

guerrilheira –

nossa irmã







Poema do soldado morto











o combatente do medo

armado até as gengivas

pra combater um segredo

partiu



e nem sabia por que



o combatente do medo

(filho em si de camponeses)

chegou sangrou camponeses

massacrou jogou napalm



e nem sabia por que



o combatente do medo

na sombra da selva espessa

tombou sobre o grão de fogo

de uma bala guerrilheira



e nunca soube por que









e os generais, que entrementes

guerreavam – nos banquetes

batizaram-no de herói

e recrutaram mais trinta



que nem sabiam por que



* *









ó vós, soldados do medo

irmãos e filhos do povo,



voltai vossas tristes armas

contra quem vos faz escuros

contra quem vos faz escudos

dos seus escusos projetos!



sustais todas vossas alas

guardai todas vossas balas

para os generais abjetos!







Canção das F. G. A.













Não somos do norte

nem somos do sul

Nossa geografia

é um sopro de liberdade







O verde invadiu nossos olhos

Verde a floresta

e verde a nossa certeza

nos novos frutos da terra







Decerto que há fuzis

muitos mortos, muitos nossos

há os do ofício do não

entre o povo e a madrugada







Decerto que há um muro de homens

verdes (verde-velho, verde-lodo)

entre nós – entre o povo –

e a madrugada









mas (antes de tudo)

é preciso que se faça o dia

é se as nossas águas, nosso fogo

vão dar no dia







que noite nos deterá?

Decerto não fizesse escuro

deitaríamos aos fuzis no

leito do Araguaia







e passaríamos a cantar

uma flor, uma floresta: esta

Mas que flor de mais cantigas

que a liberdade buscada?







Não somos do norte

nem somos do sul

Nossa geografia

são as pétalas da madrugada



Ladainha











pelas crianças

nos campos incendiados

pelo napalm

e pela dor sem nome

yankee go home



pelas terras das américas

pelas insidias e técnicas

pelo cerco

das alianças de fome

yankee go home



pela ajuda dolorosa

pela cia e seus discípulos

pelos canhões

pelos tanques



go home yankee



no topo das cinco terras

sob a sombra, pelas frestas

gritaremos,

até vosso ódio estanque

go home yankee











Das Ferramentas

















não aceite o açoite

porque de aço e noite

não se faz manhã



manhã se faz, mas

é com braço e foice

é ceifando ao tempo



toda a flora vã











AVANTE!















Sus

vós

nus

sós



pois

os

sóis

dos



que

são

sem





vem!









Percepção da Aurora











não no ponto neutro

inexistente nos relógios

porém no centro

de que é são e podre

no espaço lento

do que é perto e longe

no ligamento

do que vem e hoje

no dividendo

do depois e agora

entre o que se guarda

e o que se joga fora

entre o cuspo e o beijo

noites e matizes:

te escuto te vejo

descubro as tuas

raízes – ó aurora

indivisível!



NOTAS







Helenira – Jovem paulista. Muito conhecida nos meios estudantis de vários estados, devido a ter participado da diretoria da UNE. Perseguida pela repressão, foi viver com os camponeses da região do araguaia, lá se incorporando à guerrilha. Destacou-se pela sua coragem e dinamismo. Foi morta durante um combate com as forças policiais.



Quelé – Outro guerrilheiro. Atacado de malária, ardendo em febre, abrigava-se sob uma arvore, quando foi surpreendido por soldados. Sofreu então toda a sorte de torturas. Ferido e sangrando, foi levado prisioneiro amarrado sobre um cavalo. Em todo o caminho gritou, concitando o povo a continuar a luta. Sua voz foi-se tornando cada vez mais débil, até que se calou em definitivo. Este episódio é largamente conhecido e recontado pelos moradores da região, havendo já adquirido uma certa aura de fato lendário.



Maria Lúcia – Jovem de pouco mais de vinte anos. Desfrutava de uma vida relativamente abastada no Sul do país, mas preferiu a luta ao lado do povo. Viveu no interior do Mato grosso, onde era muito estimada pela população. Daí ligou-se as FGA. Inexperiente ainda, caiu numa cilada e foi morta pelos soldados da repressão, a 16 de maio de 1972, pouco depois de iniciada a resistência. Comentando o fato, um general, - chefe de policia de Mato Grosso – disse ser esse o “tratamento que o Exercito dispensava aos guerrilheiros...”.









A HELENIRA RESENDE











Elenira como muchos,

un día descubrió

la verdad

como muchos.

la verdad del pueblo,

aquella verdad dura

del pueblo oprimido.



y ella la defendió,

la defendió hasta el fin.

y mirá que eso es difícil,

a veces más que morir.

y ella la defendió

Noche y día.



noche y día

ella vivió,

del hombre su alegría,

del pueblo sus dolores.

ella amó y sufrió

noche y día.



noche y día

trabajó,

el hombre de la tierra,

la tierra del hombre

su tierra

noche y día.



Noche y día

Elenira hiso de sí,

un arma del pueblo,

del pueblo su lucha.



un día Elenira murió

y ese día se hizo noche,

pero enseguida nació

otro día

que ella dejó para nacer.



Elenira no murió

así tan simplemente,

la vida le fue arrancada.

asesinada

fue Elenira.

sinó, ella no dejaba

la vida

la lucha

noche y día.



y ella sigue presente

en el pueblo,

en la llama de la lucha,

en el ánimo,

en el movimiento

de todo aquello

que quiere hacer

de nuestro mundo,



y ella sigue presente

en el pueblo,

en la llama de la lucha,

en el ánimo,

en el movimiento

de todo aquello

que quiere hacer

de nuestro mundo,

nuestro mundo brasilero,

de nuestro mundo entero,

el mundo de aquél

que,

explotado,

sufrido,

noche y día

lucha para construir

un mundo de libertad.











Para inaugurar esta nueva sección de nuestro Boletín, hemos seleccionado dos poesías acerca de la heroica lucha iniciada hace casi 3 años por los guerrilleros del Araguaia. La primera titulada “Escucha la voz del Araguaia” – y, de la cual, infelizmente, no tenemos sino algunos fragmentos – viene siendo divulgada desde hace algún tiempo por la resistencia brasilera a través de su prensa clandestina; en sus estrofes afirma:









“Luto por un Brasil novo

e livre de generais

pelos direitos do povo

e liberdades gerais“.



Y, más adelante, convocando el pueblo a seguir el camino del Araguaia:



“O fraco vira no forte

no grande vira o pequeno

aos poucos se muda a sorte

e largo fica o terreno.



conheço bem esta terra

e luto com decisão

domino a arte da guerra

é justa minha razão.



não temo nenhum castigo

nem temo ante trovão

por isso junto comigo

andará toda a nação“.





A busca da apuração de responsabilidades pela morte e/ou desaparecimento de opositores ao regime de 64 que participaram do episódio conhecido como “Guerrilha do Araguaia”, e, ainda, pela perseguição policial, e difíceis condições de sobrevivência a que foram submetidas às populações de várias cidades do sul do Pará e norte de Goiás – por onde se estendeu a guerrilha – tem sido objeto de incansável luta de suas famílias e dos movimentos de Anistia.

Toda a imprensa divulgou que nos anos 72/74 a presença do exército naquela região foi ostensiva e numerosa, com o fim determinado de perseguir e aniquilar todo movimento de resistência à exploração e miséria que caracterizam a vida daquela gente. Sabe-se mesmo que na última campanha, em 1974, o contingente das forças armadas que para lá se deslocou era de 5 mil homens.

Apesar da participação, hoje tornada pública, do exercito na prisão, tortura, morte e desaparecimento de brasileiros para lá se mudaram e da população que sempre morou lá, até o presente momento as autoridades federais não assumem a sua responsabilidade. Nada respondem sobre o paradeiro das pessoas que lá estavam e foram aprisionadas; não tomam a iniciativa de investigar sobre a ação do exercito naquela área; sistematicamente se recusam a adotar um procedimento sério a partir das denuncias dos familiares dos mortos e/ou desaparecidos.

O Comitê Brasileiro pela Anistia (RJ e MG) considera que esta apuração de responsabilidades e punição dos autores dos crimes cometidos contra a população e os guerrilheiros do Araguaia, bem como a desativação de todos os órgãos de repressão, acompanhada da revogação da Lei de Segurança Nacional, demais leis de exceção, são condições para a conquista da ANISTIA AMPLA,GERAL E IRRESTRITA.



JULHO DE 1980

CBA – Minas Gerais

CBA – Rio de Janeiro
















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