O que torna uma pessoa feia ou bela é, na verdade, um mistério. Mas cada lugar e cada época estabelecem critérios para definir a aparência desejável às pessoas, ainda que muitas delas superem esses critérios por causa de sua personalidade, de sua segurança, de sua capacidade de adaptação ou de seu poder.
Um erro comum quando se fala sobre padrões de beleza é imaginar que eles se aplicam mais às mulheres: "Isso é bobagem. Basta observar as esculturas gregas para saber o quanto a beleza masculina era valorizada naquela sociedade, e a força com que aqueles padrões chegaram até nós", afirma o historiador Luiz Eduardo Simões de Souza. "A beleza andrógina que se vê hoje também não é novidade. Se observarmos as figuras do Egito Antigo, por exemplo, veremos que os tipos ideais de ambos os sexos eram bem parecidos: morenos e longilíneos."
A beleza também não foi sempre fundamental para a aceitação das pessoas pela sociedade: "Na Idade Média, por exemplo, o padrão de beleza feminina praticamente não existia: bastava ser mulher e respirar, que estava tudo bem", brinca o historiador. Foi com o Renascimento que houve o resgate do ideal greco-romano de beleza, e o corpo voltou a ter um papel importante nos valores da sociedade ocidental. Foi nessa época que as mulheres gordinhas (na verdade, as mulheres nobres que conseguiam se alimentar direito) se tornaram referenciais de beleza. "Mas não era como agora. Essas referências serviam muito pouco para as pessoas comuns", assinala do historiador.
Da mesma forma, as burguesas coradas e bem vestidas se tornaram o referencial de beleza no século 19. Num grupo menor, também, os românticos pálidos que podiam passar o dia sem fazer nada viraram símbolos de beleza. "Nos dois casos, observa-se que o que determina a beleza é a posição social. Aquilo que um rico pode ter passa a ser o ideal a alcançar."
Mas o que dizer do século 20? Foram tantas as mudanças que a gente chega a se perder: as beldades da década de 20 se parecem mais com as de hoje, por exemplo, do que com a rechonchuda Marilyn Monroe da década de 50. "Mas o padrão que se estabeleceu nos últimos dez ou quinze anos, principalmente, é o que se pode chamar de 'padrão aborígene': o bonito é introduzir coisas no corpo, como o silicone e os anabolizantes, ou mesmo tatuagens e piercings." O único problema é que, assim como acontece com os aborígenes, corremos o risco de ficar cada vez mais parecidos uns com os outros. "Isso faz sentido", conclui o historiador, "pois é totalmente coerente com a sociedade de consumo capitalista em que vivemos."
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