O funk é hoje uma das maiores manifestações culturais de massa do nosso país e
está diretamente relacionado aos estilos de vida e experiências da juventude de
periferias e favelas. Para esta, além de diversão, o funk é também perspectiva de vida,
pois assegura empregos direta e indiretamente, assim como o sonho de se ter um
trabalho significativo e prazeiroso. Além disso, o funk promove algo raro em nossa
sociedade atualmente que é a aproximação entre classes sociais diferentes, entre
asfalto e favela, estabelecendo vínculos culturais muito importantes, sobretudo em
tempos de criminalização da pobreza.
No entanto, apesar da indústria do funk movimentar grandes cifras e atingir milhões de
pessoas, seus artistas e trabalhadores passam por uma série de dificuldades para
reivindicarem seus direitos, são superexplorados, submetidos a contratos abusivos e,
muitas vezes, roubados. O mais grave é que, sob o comando monopolizado de poucos
empresários, a indústria funkeira tem uma dinâmica que suprime a diversidade das
composições, estabelecendo uma espécie de censura no que diz respeito aos temas
das músicas. Assim, no lugar da crítica social, a mesmice da chamada “putaria”, letras
que têm como temática quase exclusiva a pornografia. Essa espécie de censura
velada também vem de fora do movimento, com leis que criminalizam os bailes e
impedimentos de realização de shows por ordens judiciais ou por vontade dos donos
das casas de espetáculos.
A despeito disso, MCs e Djs continuam a compor a poesia da favela. Uma produção
ampla e diversificada que hoje, por não ter espaço na grande mídia e nem nos bailes,
vê seu potencial como meio de comunicação popular muito reduzido.
Para transformar essa realidade, é necessário que os profissionais do funk organizem
uma associação que lute por seus direitos e também construa alternativas para a
produção e difusão das músicas, contribuindo para sua profissionalização. Bailes
comunitários em espaços diversos e mesmo nas ruas, redes de rádios e TVs
comunitárias com programas voltados para o funk, produção e distribuição alternativa
de CDs e DVDs dos artistas, concursos de rap são algumas das iniciativas que os
profissionais do funk, fortalecidos e unidos, podem realizar. Com isso, será possível
ampliar a diversidade da produção musical funkeira, fornecer alternativas para quem
quiser entrar no mercado, além de assessoria jurídica e de imprensa, importantes para
proteger os direitos e a imagem dos funkeiros.
O primeiro passo nesse processo é a união de todos, funkeiros e apoiadores, pela
aprovação de uma lei federal que defina o funk como movimento cultural e musical de
caráter popular. Reivindicar politicamente o funk como cultura nos fortalecerá
enquanto coletivo para combatermos a estigmatização que sofremos e o poder
arbitrário que, pela força do dinheiro ou da lei, busca silenciar a nossa voz.
Tamos juntos!
Manifesto aprovado em encontro de MCs e DJs realizado em 26/07/2008.
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