Por Mara Onijá |
A poucos dias de se completar 120 anos da assinatura da falsa abolição dos negros, os jornais noticiaram as declarações racistas do professor Antonio Natalino Manta Dantas, então coordenador de Medicina da Universidade Federal da Bahia (UFBA), dizendo que a nota 2 obtida pelo curso no Enade deve-se ao “baixo QI dos estudantes baianos” .
Utilizando-se do conceito de QI, superado cientificamente, ele expressou sem meias palavras o pensamento racista que ainda impera principalmente nas cadeiras de comando, que estão a serviço de manter todo o caráter elitista e racista da Universidade.
Natalino Dantas afirmou ainda que “pode estar havendo uma contaminação das cotas” . Para os racistas como Dantas, mesmo numa cidade negra como Salvador, as cadeiras das salas de aula devem continuar sendo ocupadas exclusivamente pelos brancos.
As semelhanças das afirmações de Natalino Dantas com “teóricos” racistas do século XIX não são mera coincidência. Assim como os “pensadores” do século XIX não expressavam apenas posições individuais, mas sim o compromisso com um projeto do Estado brasileiro, Natalino expressa a orientação da elite branca dos dias de hoje, que mantém e executa o processo de genocídio do povo negro no Brasil. A única diferença de Natalino com uma parte dessa elite é que não mascara o seu projeto com discursos demagógicos do nefasto mito da democracia racial.
“Não temos aquele desenvolvimento que poderíamos ter. Se comparados com os estados do Sul, vemos que a imigração japonesa, italiana e alemã foram excelentes para o país. Aqui ficamos estagnados." Se lidas sem a citação da fonte ’ palavras de Natalino Dantas ’ poderiam ser identificadas como trechos de Nina Rodrigues, em Africanos no Brasil [1], quando este falava da “possibilidade da oposição futura, que já se deixa entrever, entre uma nação branca, forte e poderosa (...) que se está constituindo nos estados do Sul (...) de um lado; e de outro, os estados do Norte (...) associada à mais decidida inércia e indolência (...)” .
Com certeza, esse racista petulante, lamenta que os projetos de embranquecimento do país não conseguiram alcançar seu objetivo até o final, como arquitetava Sylvio Romero (1851-1914) quando prometia que “o tipo branco irá tomando a preponderância até mostrar-se puro e belo como no velho mundo” .
Mas as declarações recentes não podem ser consideradas apenas como reminiscências do passado nem como um mero “surto de imbecilidade” , como afirmou o governador da Bahia, Jacques Wagner (PT). Uma interpretação como esta abre todas as brechas para a justificativa que deu o próprio Dantas, em sua nota de renúncia ao cargo de coordenador de Medicina, de que “uma irritação incomum e um assomo de destempero” o levaram a tais declarações.
Suas declarações não podem ser esquecidas porque renunciou ao cargo e publicou uma nota tentando se “redimir” . Ele é um reacionário racista que deve ser impedido de ocupar qualquer cargo em qualquer universidade, não só como coordenador, mas também como professor.
Nós da LER-QI fazemos um chamado em todas as universidades a repudiar energicamente as declarações racistas de Natalino Dantas, exigindo que seja expulso da Universidade. Chamamos aos estudantes negros, centros acadêmicos, associações e sindicatos de professores e funcionários a se organizar em casa universidade para denunciar e combater todas as manifestações de racismo que não são poucas e nem esporádicas.
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