Mas o que tentam apagar da história
é que pelo menos uma mulher já teria ocupado o trono do Vaticano: a chamada “papisa”
Joana, uma das figuras mais controversas da História. Ao longo dos séculos
muitos negaram a sua existência; contudo, é considerável o número de documentos
que atestam o seu reinado em
Roma. Se de fato existiu, terá sido um feito extraordinário,
digno de Hollywood: ter ocupado um lugar a que só homens tinham (e têm)
acesso. Na “Idade das Trevas”, as mulheres quase não tinham direitos e poucas
podiam estudar, porque se cria que eram incapazes de pensar. E em mais uma
prova de que a igreja católica permanece na Idade Média, ainda relegam as
mulheres a meras serviçais.
Em todo caso, o relato diz que,
no ano 814, em Engelheim, Alemanha, nasceu a filha de um cônego inglês que logo
deu mostras de inteligência privilegiada. Aprendeu a ler e a escrever, às escondidas,
com seu irmão Mateus. O tutor do menino, depois que o garoto morreu, ensinou à
menina latim e o grego, e ao partir, prometeu ajudá-la a continuar os estudos. Meses
depois o pai de Joana recebeu uma carta do bispo, ordenando-lhe que lhe enviasse
a menina. No palácio episcopal, Joana enfrentou rejeição do reitor, que não
queria uma menina na escola; mas, por sua inteligência e pela insistência
do bispo, foi aceita. Como Joana não poderia ficar instalada junto aos rapazes,
o bispo determinou que fosse enviada à casa de um cavaleiro seu amigo, onde
ficaria alojada.
Entretanto, enfadada dos
estudos, Joana resolveu fugir; assumiu uma identidade masculina e entrou para
um mosteiro com o nome de Johannes Anglicus (João Inglês). Ali, com a biblioteca à sua disposição, aprofundou-se nos
estudos religiosos e clássicos, tornando-se extremamente culta e erudita.
Aprendeu os rudimentos da medicina da época e por fim foi chamada a Roma, para
tratar da saúde do “papa” Leão IV. Sempre disfarçada de homem, ganhou prestígio
e respeito entre os dignitários da igreja. Foi nomeada “secretário da Cúria” e,
depois cardeal.
Com
a morte do “papa” Leão IV (17 de julho de 855),
acabou eleita “papa” e adotou o nome de João VIII, sendo um “papa” discreto que
quase não aparecia em
público. Mas certo dia, durante uma procissão, montada num
cavalo e à frente do cortejo, como era o costume da época, Joana sentiu-se mal
e caiu. Entre dores, sangue e lágrimas, deu à luz uma criança. Os cardeais,
atordoados, gritaram: “Milagre!
Milagre!”. Na verdade, o “milagre”
de um “papa” parir explica-se: ao saber da fuga de Joana, o cavaleiro
amigo do bispo não cessou de a procurar, encontrando-a, anos
depois, em Roma. Apaixonaram-se; passaram a se encontrar às escondidas, e
o bebê seria
filho desse cavaleiro.
atordoados, gritaram: “Milagre!
Milagre!”. Na verdade, o “milagre”
de um “papa” parir explica-se: ao saber da fuga de Joana, o cavaleiro
amigo do bispo não cessou de a procurar, encontrando-a, anos
depois, em Roma. Apaixonaram-se; passaram a se encontrar às escondidas, e
o bebê seria
filho desse cavaleiro.
A partir daí os relatos
divergem. Segundo alguns, a multidão apedrejou Joana e a criança até à morte,
por ter profanado o trono. Para outros, mãe e filho foram encarcerados até ao
fim dos seus dias. Outra versão seria que ambos morreram de complicações do
parto.
Uns dizem que Joana nasceu no oriente, em Constantinopla talvez, com o
nome de Giliberta, e vestia-se de homem para estudar filosofia e teologia. Depois
de algum tempo, sob disfarce, impressionara tanto os doutores da igreja católica
com sua sabedoria que foi escolhida para o trono papal. Essa mesma versão
também conta que Joana havia se apaixonado por um guarda suíço e engravidara
dele.
Outra vertente é de que Joana seria na verdade um eunuco, que por ser castrado não foi eleito, mas rotulado de “mulher” e assim impedido de ocupar o trono.
Já outra versão diz que Joana casou-se com um monge na Grécia, onde teria se vestido de homem para não escandalizar o povo, pois os padres não podiam se casar (veja que não mudou nada). Sob o pseudônimo Johannes Anglicus, fingia ser um apenas discípulo; depois tornou-se monge, e depois cardeal. Após a morte de Leão IV, ficou com a vaga do defunto. Nessa versão ela também engravida, e a justificativa de ninguém descobrir é que a túnica era larga o suficiente para esconder a barriga.
Verdade ou lenda? Se considerarmos o poder da igreja católica naqueles tempos, e que os
historiadores eram padres, é fácil compreender por que suprimiram esse “papado”
quase três anos: depois de Leão IV já aparece Bento III. E em 872 nomearam
outro “papa” com o mesmo nome da “papisa” (“João VIII”).
Mas outros fatos dão força à história:
- Em 1276, o “papa” João XX, após rigorosa investigação, mudou o seu nome para João XXI, reconhecendo, assim, o “papado” de Joana;
- Existiu também, entre os diversos bustos papais de terracota na Catedral de Siena, um da “papisa”. Por determinação do “papa” Clemente VIII, sumiram com ele em 1601.
- Exatamente a partir do ano 857, data da morte
da “papisa”, até ao século XIX, era usada uma cadeira com um buraco no assento,
usada nas cerimônias da consagração de um novo “papa”. O recém-eleito
sentava-se e era feito um exame palpável para se determinar se era, de fato, do
sexo masculino. Só então o camerlengo
anunciava “Habemus papam” (“temos um
papa”). Essa cadeira ainda existe em Roma, não podendo a igreja católica negar
a sua existência.





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