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terça-feira, 28 de maio de 2013

Segredos do Vaticano - a papisa Joana


Fevereiro de 2013. Causou espanto o pedido de aposentadoria, aos 85 anos de idade, do “papa” de Roma, o alemão Joseph Ratzinger, ex-chefe da Inquisição. Um fato raríssimo, ocorrido poucas vezes desde que surgiu a excrescência do cristianismo chamada “papado”. Num momento em que os movimentos pela igualdade de direitos fazem cada vez mais barulho, seria de se questionar por que a “santa igreja” não permite, por exemplo, o sacerdócio feminino. Mas, ainda que queira se apresentar como moderna e se desfazer de sua imagem medieval, Roma ainda resiste a coisas hoje corriqueiras em outros campos, como a globalização. Se o catolicismo fincou pé em todos os continentes, por que resistem à escolha de um “papa” não-europeu? B16 já foi um milagre, pois foi o segundo não-italiano em mais de 500 anos (o primeiro foi seu antecessor JP2, polonês). Agora, “papa” argentino ou brasileiro soaria como sacrilégio na Capela Sistina. “Papa” de cor negra então seria “o apocalipse”.
Mas o que tentam apagar da história é que pelo menos uma mulher já teria ocupado o trono do Vaticano: a chamada “papisa” Joana, uma das figuras mais controversas da História. Ao longo dos séculos muitos negaram a sua existência; contudo, é considerável o número de documentos que atestam o seu reinado em Roma. Se de fato existiu, terá sido um feito extraordinário, digno de Hollywood: ter ocupado um lugar a que só homens tinham (e têm) acesso. Na “Idade das Trevas”, as mulheres quase não tinham direitos e poucas podiam estudar, porque se cria que eram incapazes de pensar. E em mais uma prova de que a igreja católica permanece na Idade Média, ainda relegam as mulheres a meras serviçais.
Em todo caso, o relato diz que, no ano 814, em Engelheim, Alemanha, nasceu a filha de um cônego inglês que logo deu mostras de inteligência privilegiada. Aprendeu a ler e a escrever, às escondidas, com seu irmão Mateus. O tutor do menino, depois que o garoto morreu, ensinou à menina latim e o grego, e ao partir, prometeu ajudá-la a continuar os estudos. Meses depois o pai de Joana recebeu uma carta do bispo, ordenando-lhe que lhe enviasse a menina. No palácio episcopal, Joana enfrentou rejeição do reitor, que não queria uma menina na escola; mas, por sua inteligência e pela insistência do bispo, foi aceita. Como Joana não poderia ficar instalada junto aos rapazes, o bispo determinou que fosse enviada à casa de um cavaleiro seu amigo, onde ficaria alojada.
Entretanto, enfadada dos estudos, Joana resolveu fugir; assumiu uma identidade masculina e entrou para um mosteiro com o nome de Johannes Anglicus (João Inglês). Ali, com a biblioteca à sua disposição, aprofundou-se nos estudos religiosos e clássicos, tornando-se extremamente culta e erudita. Aprendeu os rudimentos da medicina da época e por fim foi chamada a Roma, para tratar da saúde do “papa” Leão IV. Sempre disfarçada de homem, ganhou prestígio e respeito entre os dignitários da igreja. Foi nomeada “secretário da Cúria” e, depois cardeal.
Com a morte do “papa” Leão IV (17 de julho de 855), acabou eleita “papa” e adotou o nome de João VIII, sendo um “papa” discreto que quase não aparecia em público. Mas certo dia, durante uma procissão, montada num cavalo e à frente do cortejo, como era o costume da época, Joana sentiu-se mal e caiu. Entre dores, sangue e lágrimas, deu à luz uma criança. Os cardeais,
atordoados, gritaram: “Milagre! Milagre!”. Na verdade, o “milagre” de um “papa” parir explica-se: ao saber da fuga de Joana, o cavaleiro amigo do bispo não cessou de a procurar, encontrando-a, anos depois, em Roma. Apaixonaram-se; passaram a se encontrar às escondidas, e o bebê seria filho desse cavaleiro.
A partir daí os relatos divergem. Segundo alguns, a multidão apedrejou Joana e a criança até à morte, por ter profanado o trono. Para outros, mãe e filho foram encarcerados até ao fim dos seus dias. Outra versão seria que ambos morreram de complicações do parto.
Uns dizem que Joana nasceu no oriente, em Constantinopla talvez, com o nome de Giliberta, e vestia-se de homem para estudar filosofia e teologia. Depois de algum tempo, sob disfarce, impressionara tanto os doutores da igreja católica com sua sabedoria que foi escolhida para o trono papal. Essa mesma versão também conta que Joana havia se apaixonado por um guarda suíço e engravidara dele.

Outra vertente é de que Joana seria na verdade um eunuco, que por ser castrado não foi eleito, mas rotulado de “mulher” e assim impedido de ocupar o trono.

Já outra versão diz que Joana casou-se com um monge na Grécia, onde teria se vestido de homem para não escandalizar o povo, pois os padres não podiam se casar (veja que não mudou nada). Sob o pseudônimo Johannes Anglicus, fingia ser um apenas discípulo; depois tornou-se monge, e depois cardeal. Após a morte de Leão IV, ficou com a vaga do defunto. Nessa versão ela também engravida, e a justificativa de ninguém descobrir é que a túnica era larga o suficiente para esconder a barriga.

Verdade ou lenda? Se considerarmos o poder da igreja católica naqueles tempos, e que os historiadores eram padres, é fácil compreender por que suprimiram esse “papado” quase três anos: depois de Leão IV já aparece Bento III. E em 872 nomearam outro “papa” com o mesmo nome da “papisa” (“João VIII”).

Mas outros fatos dão força à história:

- Em 1276, o “papa” João XX, após rigorosa investigação, mudou o seu nome para João XXI, reconhecendo, assim, o “papado” de Joana;

- Existiu também, entre os diversos bustos papais de terracota na Catedral de Siena, um da “papisa”. Por determinação do “papa” Clemente VIII, sumiram com ele em 1601.

- Exatamente a partir do ano 857, data da morte da “papisa”, até ao século XIX, era usada uma cadeira com um buraco no assento, usada nas cerimônias da consagração de um novo “papa”. O recém-eleito sentava-se e era feito um exame palpável para se determinar se era, de fato, do sexo masculino. Só então o camerlengo anunciava “Habemus papam” (“temos um papa”). Essa cadeira ainda existe em Roma, não podendo a igreja católica negar a sua existência. 

Evidentemente que os católicos insistirão que isto é apenas uma lenda para difamar a sua “santa igreja”. O chororô é antigo. Barônio considera a “papisa” um monstro que os “heréticos” evocaram do inferno. Um tal padre Labbé acusou os protestantes de serem os inventores da história; mas tendo Joana subido à “santa sé” 500 anos antes do nascimento do primeiro reformador, seria-lhes impossível tal invenção. E Mariano, que escrevera sobre a “papisa” muito antes, não poderia estar citando algum reformador. Florimundo Raxmond comparou Joana, na mesma época, a um enviado do céu para punir a igreja romana, cujas abominações provocaram a cólera de Deus.

Muitos outros escritores descrevem o episódio: veja mais aqui. Um dos sinais mais interessantes da existência de Joana é um decreto riscando seu nome do catálogo dos “papas”. Genebrardo, arcebispo de Aix, afirma que a “santa sé” foi ocupada por “papas” tão corruptos “que deviam ser chamados apostáticos e não apostólicos”, e que várias mulheres governaram Roma nesse tempo. Com efeito, as cortesãs Teodora e sua filha Marozia colocaram no “trono de ‘são’ Pedro” seus amantes e filhos ilegítimos durante um período conhecido como a “Pornocracia” ou o “governo das prostitutas”.

Marozia dei Teofilatti fora seduzida, ainda adolescente, pelo corrupto “papa” Sergio III (904-911); depois tiveram vários filhos. Sergio, que participara do absurdo julgamento do cadáver, foi descrito por Barônio, Gregório e outros escritores como “monstro” e “criminoso aterrorizante”. Diz um deles: “Por sete anos ocupou a sede de são Pedro, enquanto sua concubina, imitando a rainha Semiramis, reinava na corte em pompa e luxo como nos piores dias do velho Império Romano”. Sobre Teodora, relata: “Esta mulher, junto com Marozia, a prostituta do papa, encheu a sé papal com seus filhos bastardos e converteu o palácio em um labirinto de ladrões”. Em 914, Teodora conseguiu nomear “papa” João X, então seu amante, assassinado em 928 por Marozia, que queria levar o seu macho do momento (Leão IV) ao trono. Este só durou um ano: se lascou todo quando Marozia percebeu que ele tinha uma prostituta mais imoral do que ela mesma. Marozia então mexeu os pauzinhos e elegeu seu filho com Sergio, ainda adolescente (chamado João XI); este, depois de uma briga com desafetos foi encarcerado e acabou envenenado. Em 995, um neto de Marozia tomou posse como João XII, tão corrupto quanto os outros, culpado de invocar o demônio e fazer-lhe brindes, víciado em jogo, roubos e imoralidades e até de provocar incêndios. Nenhuma mulher honesta, solteira, casada ou viúva, se atrevia a sair em público, pois esse “papa” não lhes tinha respeito. Levantou a ira do povo ao transformar o palácio papal em bordel; passou toda a vida em adultério e assim morreu, assassinado pelo marido da mulher com quem dormia.

E nem vamos falar muito sobre Olimpia Maidalchini, a papisa secreta, que no século XVII comandou a igreja católica através de seu cunhado e amante, o “papa” Inocêncio X. Mais sobre esses e outros escândalos “intra-muros” neste link.

A podridão está entranhada nas muralhas do Vaticano, depois de 1700 anos de corrupção - pois como se sabe, o catolicismo se inicia depois do Edito de Milão, no IV século depois de Cristo - e não antes.  Temos que perguntar:

Você acha que a simples troca de um gerente por outro, ou no máximo, a substituição do atual grupo de poder, vai mudar alguma coisa? Os dogmas continuarão os mesmos: continuarão crendo que “sem Maria não há salvação”; que só “pedindo à mãe o filho atende”. Não vão acabar os “santos” mais lendários do que a “papisa” Joana. Continuarão com suas imagens, rezando pelos mortos, passando cinza na testa, acendendo velas, batizando e crismando crianças, seguindo procissões. A mulher não terá lugar de destaque; os “homens de preto” continuarão mais filósofos do que teólogos; ainda tentarão influenciar mais a política do que a vida espiritual das pessoas; seguirão sem poder casar, mas assediando adolescentes imberbes. Nada mudará! Com a desculpa do “ecumenismo”, formarão a “igreja mundial” nos dias finais da humanidade.

Uma organização que cresceu como um câncer, um polvo maligno que abraça mais do que apenas a praça de “são” Pedro, corrupta desde os alicerces tenebrosos no subsolo de Roma, de repente vai passar a ser uma referência de correção e pureza? Uma instituição tão impenetrável, misteriosa, que torturou e matou milhões “em nome de Deus”, a ponto de julgar e condenar um cadáver; que foi dirigida por prostitutas e hoje abriga um sem-número de homossexuais e pedófilos, e que escolhe o chefe da polícia secreta para líder supremo; o que mais não terá nos seus cargos mais altos? O que mais não esconderá?

Os que defendem “honestidade, transparência e tolerância” só da boca para fora, que vivem fazendo passeata pelo Facebook e manifestação pelo Twitter, deveriam também protestar pelo fim da corrupção e por uma devassa nessa podridão. Que os mafiosos pelo menos paguem pelos seus crimes e pela tentativa de manipulação das massas crédulas e ignorantes, mostrando ao mundo o que se passa por trás daquelas muralhas.

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