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terça-feira, 25 de junho de 2013

Acusado de homofobia e racismo, Feliciano semeia polêmicas no Congresso


A Câmara dos Deputados vive uma espécie de "guerra santa" por causa da eleição como presidente de sua Comissão de Direitos Humanos de Marco Feliciano, um deputado e pastor evangélico que condena a homossexualidade e afirma que os negros foram alvo de uma "maldição" de Noé.
Sua designação para presidir a comissão, no dia 7 de março, gerou um vendaval de críticas de órgãos de direitos humanos, que o acusaram de homófobico e racista apoiados em polêmicas declarações públicas feitas pelo deputado nos últimos anos e que o próprio ratificou nos últimos dias.
Feliciano, de 40 anos, é pastor da Assembleia de Deus Catedral do Avivamiento, vinculada à Assembleia de Deus, uma igreja evangélica que tem no país cerca de 20 milhões de fiéis, entre os quais garante que há "muitos" que "deixaram" de ser homossexuais graças à ajuda espiritual.
Suas críticas à homossexualidade lhe levaram a afirmar que "o amor entre pessoas do mesmo sexo leva ao ódio, ao crime e a rejeição" e a atacar o casamento gay, não oficializado no Brasil, embora existam projetos neste sentido no Congresso.
"O problema é que depois do casamento religioso, eles podem querer, como já brigam pela adoção de crianças. E nós sabemos, a própria psicologia diz, que a criança criada por dois homens ou criada por duas mulheres tem uma problemática sem tamanho", declarou Feliciano nesta semana em entrevista à "Folha de S. Paulo".
Sobre os negros e africanos, Feliciano (PSC-SP) sustenta que são alvo de uma "maldição" e cita a Bíblia para se justificar.
"Citando a Bíblia (...), africanos descendem de Cão (ou Cam), filho de Noé. E, como cristãos, cremos em bênçãos e, portanto, não podemos ignorar as maldições", declarou, em defesa protocoloada no STF após denúncia da Procuradoria Geral da República.
Feliciano afirma que isso não representa racismo, mas um apego a suas crenças religiosas e, além disso, diz que "milhares de africanos" se "curaram" dessa "maldição" ao "se entregarem ao caminho de Deus".
Entidades de defesa dos homossexuais protestam contra o deputado a cada vez que se reúne a Comissão de Direitos Humanos, que para evitar tumultos decidiu nesta semana que restringirá o acesso a suas reuniões.
Diversos movimentos, como o Grupo LGTB Arco Iris do Rio de Janeiro, consideraram essa decisão como uma "afronta" à "mobilização da sociedade civil contra o disparate" de que uma pessoa "homofóbica, racista e machista" dirija essa comissão.
O presidente dessa organização, Julio Moreira, lamentou em entrevista à Agência Efe sobre a presença de "deputados fundamentalistas religiosos" no Congresso, sobre o qual disse que deveria ser regido pela pluralidade, e não por "fanatismos".
Nas últimas semanas, os protestos contra Feliciano lotaram as redes sociais, nas quais foram convocadas manifestações e vários "beijaços" em lugares públicos.
Artistas como Caetano Veloso se somaram às manifestações e até incentivaram a cantora Daniela Mercury a assumir que tem uma relação amorosa com a jornalista Malu Verçosa.
"Numa época em que temos um Feliciano desrespeitando os direitos humanos, grito o meu amor aos 7 ventos. Quem sabe haja ainda alguma lucidez no Congresso Brasileiro", escreveu Daniela no Instagram e em nota à imprensa.
O PSOL pediu na última quarta-feira o início de um processo disciplinar contra Feliciano na Câmara por quebra de decoro parlamentar, denunciando que ele teria tirado proveito do mandato em benefício próprio e usado cota parlamentar para pagar empresas que lhe prestaram serviços particulares.
Além da denúncia apresentada pelo PSOL, deputados do PT, apoiados por colegas de outros partidos, protocolaram um recurso na Mesa Diretora da Câmara que pede a anulação da reunião da Comissão de Direitos Humanos que elegeu Feliciano como seu presidente.
O deputado Eleuses Paiva (PSD-SP), que também exige a renúncia de Feliciano, declarou à Agência Efe que "é necessário resolver este clima de 'guerra santa', encontrar uma solução e evitar um desgaste maior" do próprio Congresso.
A indignação ultrapassou as fronteiras do país, e o coro crítico ganhou a voz da Anistia Internacional, que rotulou de "inaceitável" a eleição de Feliciano para esse cargo por suas "posições claramente discriminatórias", e exigiu à Câmara que "corrija o erro".
No entanto, as pressões até agora não surtiram efeito, e Feliciano insiste que não vai renunciar, pois foi eleito de forma "legítima" pelos outros membros da comissão.

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