Aquiles - Mitologia grega
Na
mitologia grega, Aquiles (em grego antigo: Ἀχιλλεύς; transl. Akhilleus)
foi um herói da Grécia, um dos participantes da Guerra de Troia e o
personagem principal e maior guerreiro da Ilíada, de Homero.
Aquiles tem ainda a característica de ser o mais belo dos heróis reunidos contra Troia,1 assim como o melhor entre eles.
Lendas posteriores (que se iniciaram com um poema de Estácio, no século
I d.C.) [carece de fontes] afirmavam que Aquiles era invulnerável em
todo o seu corpo, exceto em seu calcanhar; ainda segundo estas versões
de seu mito, sua morte teria sido causada por uma flecha envenenada que o
teria atingido exatamente nesta parte de seu corpo. A expressão
"calcanhar de Aquiles", que indica a principal fraqueza de alguém, teria
aí a sua origem.
As obras literárias (e artísticas em geral) em que
Aquiles aparece como herói são abundantes. Para além da Ilíada e da
Odisseia - onde é mostrada o destino de Aquiles após a sua morte -
pode-se destacar, ainda, a tragédia Ifigénia em Áulide, de Eurípides,
"imitada" mais tarde pelo dramaturgo francês Jean Racine (1674) e
transformada em ópera pelo compositor alemão Christoph Willibald Gluck
(1774), além das artes plásticas, onde podem ser encontradas, além das
diversas pinturas de vasos e esculturas do próprio período da
Antiguidade Clássica, telas de Rubens, Teniers, Ingres, Delacroix e
muitos outros, que retratam as suas múltiplas façanhas.
Índice [mostrar]
Nome [editar]
O nome de Aquiles pode ser interpretado como uma combinação de ἄχος
(akhos), "luto" e λαός (laos), "povo", "tribo", "nação", etc. Em outras
palavras, Aquiles seria uma personificação do luto das pessoas, luto
sendo um dos temas que é levantado por inúmeras vezes na Ilíada (muitas
delas pelo próprio Aquiles). O papel de Aquiles como herói do luto
forma, assim, um contraste irônico com a visão convencional, que o
apresenta como um herói de kleos ("glória", especialmente na guerra).
Laos foi interpretado como "um corpo de soldados"; neste sentido, o
nome teria um sentido duplo, no poema; quando o herói atua da maneira
correta, seus homens trazem luto ao inimigo; da maneira errada, são os
seus homens que sentem o luto e a dor da guerra. O poema fala, em parte,
sobre a má direção da ira por parte dos líderes.
O nome Achilleus
passou a ser um nome comum e presente entre os gregos desde o início do
século VII a.C..2 Foi transformado para a forma feminina Ἀχιλλεία
(Achilleía), atestada pela primeira vez na Ática, no século IV a.C.,3 e
Achillia, encontrada num relevo de Halicarnasso como nome de uma
gladiadora lutando contra Amazonia ("amazonas"). Os jogos gladiatórios
romanos frequentemente reverenciavam a mitologia clássica, e esta parece
ser uma referência à luta de Aquiles contra a rainha amazona
Pentesileia, com um toque curioso de mostrar o herói na forma de uma
mulher.
Nascimento [editar]
Aquiles era o filho da nereida
Tétis e de Peleu,4 5 6 rei dos mirmidões. Tétis era uma das várias
filhas de Nereu e Doris7 8 e Peleu era filho de Éaco e Endeis.9 10 Zeus e
Posídon haviam sido rivais pela mão de Tétis até que Prometeu, o
responsável por trazer o fogo aos humanos, alertou Zeus a respeito de
uma profecia que dizia que Tétis daria luz a um filho ainda maior que
seu pai. Por este motivo, os dois deuses desistiram de cortejá-la, e
fizeram-na se casar com Peleu.11
Como em boa parte da mitologia
grega, existe uma versão da lenda que oferece uma versão alternativa
destes eventos: na Argonáutica12 Hera alude à casta resistência de Tétis
aos avanços de Zeus, e que Tétis teria sido tão leal aos laços
matrimoniais de Hera que o rejeitou de maneira fria.
A Educação de Aquiles (ca. 1772), de James Barry.
O calcanhar de Aquiles [editar]
De acordo com um fragmento de um Achilleis — a Aquilíada, escrita por
Estácio no século I - quando Aquiles nasceu Tétis teria tentado fazê-lo
imortal, mergulhando-o no rio Estige6 13 ; deixou-o, no entanto,
vulnerável na parte do corpo pelo qual ela o segurava, seu calcanhar
(ver calcanhar de Aquiles, tendão de Aquiles).6 Não está claro, no
entanto, se esta versão do mito era conhecida anteriormente. Em outra
versão, Tétis ungiu o filho com ambrósia e o colocou sobre o fogo, para
que suas partes mortais fossem queimadas; foi interrompida por Peleu, no
entanto, e acabou abandonando pai e filho, furiosa.14
Nenhuma das
fontes anteriores a Estácio, no entanto, faz qualquer referência a esta
invulnerabilidade física do personagem; ao contrário, na própria Ilíada
Homero descreve Aquiles sendo ferido: no livro 21 Asteropeu, o herói
peônio, filho de Pélagon, desafia Aquiles nas margens do rio Escamandro;
arremessa duas lanças ao mesmo tempo, uma das quais atinge o cotovelo
de Aquiles, "tirando um jorro de sangue".
Também nos fragmentos de
poemas do Ciclo Épico, onde podem ser encontradas as descrições da morte
do herói, Cypria (de autoria desconhecida), Aithiopis (de Arctino de
Mileto), a Pequena Ilíada (de Lesco de Mitilene), entre outras, não
existe qualquer indicação ou referência à sua invulnerabilidade ou ao
seu célebre ponto fraco no calcanhar; nas pinturas em vasos feitas mais
tarde, que representam a morte de Aquiles, a flecha (ou, em muitas
casos, as flechas) o atingem no corpo.
Educação [editar]
Peleu confiou Aquiles a Quíron, o centauro, no monte Pélion, para lá ser
criado.15 O centauro encarregou-se da educação do jovem, alimentou-o
com mel de abelhas, medula de ursos e de javalis e vísceras de leões. Ao
mesmo tempo, iniciou-o na vida rude, em contato com a natureza;
exercitou-o na caça, no adestramento dos cavalos, na medicina, na música
e, sobretudo, obrigou-o a praticar a virtude. Aquiles tornou-se um
adolescente muito belo, loiro, de olhos vivos, intrépido,
simultaneamente capaz da maior ternura e da maior violência.
Peleu
deu ainda ao seu filho um segundo preceptor, Fénix, um homem de grande
sabedoria, que instruiu o príncipe nas artes da oratória e da guerra.
Juntamente com Aquiles, foi educado Pátroclo, seu amigo, filho do rei da
Lócrida, Menécio.
Aquiles na corte do Rei Licomedes [editar]
O
adivinho Calcas havia declarado, quando Aquiles tinha nove anos de
idade, que Troia só poderia ser tomada com a ajuda de Aquiles.16 Tétis
tinha o pressentimento de que Aquiles morreria na guerra.16
Apavorada, Tétis tratou de disfarçar o seu filho de mulher e o enviou
para a corte do rei Licomedes, na ilha de Esquiro, para que ele fosse
educado no gineceu, junto às filhas virgens do rei, disfarçado com o
nome de Pirra ("loira" ou "ruiva").16 17
Entretanto, os gregos
enviaram Odisseu como embaixador à corte de Peleu, a fim de que ele
trouxesse o indispensável Aquiles, mas como este não foi encontrado,
recorreram a Calcas, que lhes revelou o embuste. Odisseu se disfarçou,
então, de mercador, e dirigiu-se ao palácio de Licomedes, conseguindo
entrar no gineceu. Ele expôs, perante os olhos maravilhados das
princesas, os mais ricos adornos; entre os tecidos e as joias, no
entanto, estavam escondidos um escudo e uma lança. Odisseu fez soar a
trombeda da guerra, quando a pretensa Pirra correu para se armar, se
revelando. Aquiles então concorda em participar da guerra16 17
Entretanto, uma das filhas de Licomedes, Deidamia, que já há muito tempo
conhecia a verdadeira identidade de Aquiles, apresentou-se grávida,
embora o nascimento do seu filho só aconteça após a partida do herói.
Este recebeu o nome de Neoptólemo, e a alcunha de Pirro (pelo nome de
seu pai).16
Ulisses conduziu então Aquiles para junto de seus pais.
Tétis, assustada com o insucesso do seu estratagema, fez insistentes
recomendações a seu filho: a sua vida seria tanto mais longa quanto mais
obscura ele a mantivesse. Mas Aquiles recusou os conselhos de sua mãe.
Nada lhe importava mais do que o brilho da glória e, por mais que os
oráculos previssem a sua morte em Troia - como consequência de ter
matado um filho de Apolo - ele não descansou enquanto seu pai não lhe
concedeu um exército e uma frota. Peleu dotou-o então com cinquenta
navios e confiou-lhe as armas que os deuses lhe tinham oferecido no dia
do seu casamento. Aquiles partiu, levando consigo o seu fiel preceptor
Fénix, assim como também, o seu fiel e inseparável amigo Pátroclo.
Aquiles na Guerra de Troia [editar]
A Fúria de Aquiles, de Giovanni Battista Tiepolo.
Aquiles é mencionado já nos dois primeiros versos da Ilíada:
μῆνιν ἄειδε θεὰ Πηληϊάδεω Ἀχιλῆος
οὐλομένην, ἣ μυρί' Ἀχαιοῖς ἄλγε' ἔθηκεν,
Cante, deusa, da ira, do filho de Peleu, Aquiles,
a amaldiçoada ira, que trouxe dor a milhares dos aqueus.
Aquiles é o único mortal a experimentar a ira devoradora; se sua raiva
pode, por vezes, hesitar, noutros momentos ela não pode ser resfriada. A
humanização de Aquiles através dos eventos da guerra é um importante
tema da narrativa da obra.
Télefo [editar]
Assim que os gregos
partem para a Guerra de Troia, eles fazem uma parada acidental na Mísia,
na Ásia Menor, governada então pelo rei Télefo. Na batalha que se
seguiu Aquiles provocou no próprio Télefo uma ferida que não cicatrizava
jamais; Télefo consultou um oráculo, que afirmou que "aquele que feriu
deverá curar". Guiado pelo oráculo, foi levado a Argos, onde Aquiles o
curou, e acabou por se tornar seu guia na viagem a Troia.
De acordo
com relatos sobre a peça perdida de Eurípides sobre Télefo, ele teria
ido a Áulide fingindo ser um mendigo, e pedido a Aquiles que curasse sua
ferida; este recusou, afirmando não ter conhecimentos de medicina.
Ainda noutra versão, Télefo teria sequestrado Orestes e pedido um
resgate para libertá-lo, que seria a ajuda de Aquiles para curar a
ferida. Odisseu teria argumentado que a lança de Aquiles causou a ferida
e, portanto, ela deveria poder curá-la. Pedaços da lança foram então
raspados sobre a ferida, e Télefo foi curado.
Élide e Tenedo [editar]
Regressados ao porto de Élide - oito anos mais tarde - para se
reagruparem após esta expedição fracassada, os gregos foram imobilizados
pela calmaria dos ventos. Agamemnon, o chefe dos exércitos aqueus,
tendo sabido através do oráculo que os ventos não soprariam a não ser
que sacrificasse a sua filha Ifigénia, imaginou que a melhor maneira de a
atrair, sem suspeitas, seria propondo-lhe casamento com Aquiles. Quando
o herói teve conhecimento do embuste em que fora envolvido sem saber,
censurou violentamente o "rei dos reis": e esta será a primeira querela
com Agamemnon.
Após o cumprimento do sacrifício de Ifigênia, os
deuses permitiram aos ventos que soprassem, e assim a frota grega pôde
navegar, fazendo escala na ilha de Tenedo, ao largo de Troia. Não se
sabe ao certo se o rei da ilha, Tenes, teria simplesmente se oposto ao
desembarque dos gregos, ou antes tentado proteger a sua irmã das
intenções de Aquiles; qualquer que seja a resposta, a verdade é que ele
acabou sendo morto pelo herói. Como Tenes era, no entanto, filho de
Apolo, seu destino foi traçado ali - mesmo que Aquiles lhe tenha
prestado um serviço fúnebre cheio de pompa.
Cicno de Colonas [editar]
De acordo com a Cípria,18 com o resto do Ciclo Épico e as tradições
narradas por Plutarco e pelo acadêmico bizantino João Tzetzes, quando os
navios gregos chegaram a Troia, Aquiles teria lutado contra Cicno de
Colonas, um filho de Posídon, e o matado.
Troilo [editar]
De
acordo com a Cípria (a parte do Ciclo Épico que narra os eventos da
Guerra de Troia antes da "ira de Aquiles"), quando os aqueus desejaram
retornar para suas casas, foram impedidos por Aquiles, que
posteriormente atacou o gado de Eneias, saqueou as cidades vizinhas e
matou Troilo.18
De acordo com Dares, o Frígio, em seu Relato da
Destruição de Troia,19 o sumário em latim através do qual a história de
Aquiles foi transmitida à Europa medieval, Troilo era um jovem príncipe
troiano, o mais novo dos cinco filhos legítimos de Príamo (ou, por
vezes, de Apolo) e de Hécuba. Apesar de sua pouca idade, foi um dos
principais líderes guerreiros troianos. Profecias ligavam o destino de
Troilo ao de Troia, e por isso ele sofreu uma emboscada, numa tentativa
de aprisioná-lo. Aquiles, no entanto, fascinado com a beleza tanto de
Troilo como de sua irmã Polixena, e, arrebatado pelo desejo, dirigiu
suas atenções sexuais ao jovem - que, ao recusar-se a ceder aos avanços
de Aquiles, viu-se decapitado sobre um altar de Apolo. Versões
posteriores da história sugeriram que Troilo teria sido morto
acidentalmente por Aquiles, num abraço caloroso entre amantes; nesta
versão do mito, a morte de Aquiles teria vindo como uma retribuição por
este sacrilégio.20 Os escritores antigos retrataram Troilo como a
epítome de uma criança morta, pranteada por seus pais. Nas palavras do
primeiro Mitógrafo Vaticano, se Troilo tivesse chegado à idade adulta,
Troia teria sido invencível.
Na Ilíada [editar]
Aquiles fazendo um sacrifício a Zeus, da Ilíada Ambrosiana, um manuscrito com iluminuras, do século V.
Ver artigo principal: Ilíada
A Ilíada de Homero é a narrativa mais famosa dos feitos de Aquiles na
Guerra de Troia. O épico homérico cobre apenas algumas poucas semanas do
conflito, e não descreve a morte de Aquiles. Ela se inicia com o herói
se retirando da batalha, após se ver desonrado por Agamemnon, comandante
das forças aqueias. Agamemnon havia capturado uma mulher chamada
Criseida como sua escrava; seu pai, Crises, sacerdote do deus Apolo,
implorou a Agamemnon que a devolvesse a ele, em vão. Como punição, Apolo
fez uma praga recair sobre os gregos. O profeta Calcas conseguiu
determinar com sucesso a origem dos problemas, porém não ousou se
manifestar até que Aquiles jurasse protegê-lo. Agamemnon consentiu então
em retornar Criseida a seu pai, porém ordenou que o prêmio obtido por
Aquiles durante a batalha, a escrava Briseida, lhe fosse trazida como
substituta de Criseida. Irado com a desonra (e, como ele viria a dizer
posteriormente, porque amava Briseida)21 e incitado por Tétis, sua mãe,
Aquiles recusou-se a lutar ou liderar suas tropas junto com as forças
gregas.
À medida que a batalha começou a tomar um rumo desfavorável
aos gregos, Nestor declarou que os troianos estavam vencendo porque
Agamemnonn havia enfurecido a Aquiles, e instigou o líder aqueu a fazer
as pazes com o guerreiro. Agamemnon concordou e enviou Odisseu e mais
outros dois líderes até Aquiles, oferecendo o retorno de Briseida e
outros presentes. Aquiles recusou, e ainda instou os gregos a velejarem
de volta para casa, como ele planejava fazer. Eventualmente, no entanto,
ansioso por obter glória, a despeito de sua ausência no campo de
batalha, Aquiles orou para sua mãe, pedindo a ela que intercedesse a seu
favor junto a Zeus, favorecendo os troianos - que, liderados por
Heitor, acabaram efetivamente por empurrar o exército grego rumo aos
seus acampamentos na praia, e tomaram de assalto seus navios. Com as
tropas gregas à beira da completa destruição, Pátroclo liderou os
mirmidões na batalha, passando-se por Aquiles após vestir sua armadura e
usar seu carro de batalha. Pátroclo obteve sucesso ao expulsar os
troianos das praias ocupadas pelos gregos, porém acabou sendo morto por
Heitor antes que pudesse organizar o contra-ataque à cidade de Troia.
A vingança de Aquiles [editar]
Após receber de Antíloco, filho de Nestor, as notícias da morte de
Pátroclo, Aquiles sofreu muito com a morte de seu amigo, e realizou
diversos jogos fúnebres em sua honra. Sua mãe, Tétis, também tenta
confortar um Aquiles atormentado, e convence Hefesto a fazer-lhe uma
nova armadura, no lugar daquela que Pátroclo vestia, e que fora levada
por Heitor. A nova armadura contava com o Escudo de Aquiles, descrito
com riqueza de detalhes pelo poeta.
Furioso com a morte de Pátroclo,
Aquiles reconsidera sua decisão de se afastar do combate, e voltou à
batalha, matando diversos homens em sua fúria - sempre à procura de
Heitor. O herói chegou mesmo a lutar contra o deus-rio Escamandro, que
havia se enfurecido por Aquiles ter sufocado suas águas com todos os
homens que ele havia matado. O deus estava prestes a afogar Aquiles
quando foi interrompido por Hera e Hefesto; e o próprio Zeus, ao
perceber a dimensão da fúria de Aquiles, enviou os deuses para contê-lo,
para que ele não saqueasse sozinho a própria Troia - indicando que a
fúria de Aquiles, se não fosse obstruída, poderia desafiar o próprio
destino, já que Troia não deveria ser destruída ainda. Finalmente,
Aquiles encontrou sua presa; após perseguir Heitor em torno das muralhas
de Troia por três vezes, até que a deusa Atena - que havia assumido a
forma do irmão favorito de Heitor, Deífobo - convenceu Heitor a parar de
fugir e enfrentar Aquiles, cara a cara. Quando Heitor percebeu que
havia sido enganado, soube que sua morte era inevitável e aceitou seu
destino; desejoso de morrer lutando, atacou Aquiles com sua única arma,
sua espada. Aquiles obteve finalmente sua vingança, matando Heitor com
um único golpe no pescoço. Amarrou então o corpo do derrotado ao seu
carro, e o arrastou pelo campo de batalha por nove dias.
Com a ajuda
do deus Hermes, o pai de Heitor, Príamo, foi à tenda de Aquiles durante
uma noite e implorou-lhe que permitisse realizar os ritos fúnebres que
seu filho merecia. A última passagem da Ilíada é o funeral de Heitor,
após o qual o destino de Troia era apenas uma questão de tempo.
Pentesileia [editar]
Após esta trégua temporária com Príamo, Aquiles derrotou em combate e
matou a rainha amazona, Pentesileia, mais tarde lamentando sua morte.
Inicialmente distraído por sua beleza, ele não lutou de maneira tão
intensa quanto de costume; ao perceber, no entanto, que sua distração
estava colocando em risco sua vida, devido às habilidades de combate da
rainha guerreira, concentrou-se novamente e conseguiu matá-la. Enquanto
Aquiles lamentava a morte de tão rara beleza, um notório tumultuador
grego, chamado Térsites, começou a rir e caçoar dele, sugerindo que o
herói estaria apaixonado pela falecida; perturbado com tamanha falta de
sensibilidade e de respeito, Aquiles socou Térsites no rosto com fúria,
matando-o imediatamente. Embora Homero tenha retratado Térsites como um
indivíduo claramente de baixo nível social, as tradições posteriores o
descreveram como sendo um parente de Diomede - o que teria levado
Aquiles a viajar até a ilha de Lesbos, em busca de purificação.22
Segundo o diário de Díctis de Creta, a história foi diferente.
Pentesileia chegou durante os funerais de Heitor, trazendo um exército
de amazonas e aliados, e atacou os gregos, sem a ajuda dos troianos.23
Aquiles feriu Pentesileia, puxou-a pelo cabelo, e derrubou-a do cavalo, o
que causou a fuga do seu exército.24 Pentesileia ainda estava viva, e
os gregos discutiram o que fazer com ela: jogá-la no rio ou dá-la para
os cachorros dilacerarem, mas Aquiles queria deixá-la morrer
naturalmente (pelas feridas) e enterrá-la.24 Diomedes acabou tendo sua
ideia aprovada por unanimidade, e a amazona foi jogada no Rio Escamandro
para morrer afogada - um ato que Díctis considerou cruel e bárbaro.24
Mêmnon, e a queda de Aquiles [editar]
Aquiles morrendo, nos jardins do Achilleion, em Corfu.
Com a morte de Pátroclo, o companheiro mais próximo de Aquiles passou a
ser o filho de Nestor, Antíloco. Quando Mêmnon, rei da Etiópia o matou,
Aquiles novamente foi compelido a voltar ao campo de batalha, em busca
de vingança. O combate entre Aquiles e Mêmnon, motivado pela morte de
Antíloco, apresentou ecos do ocorrido entre Aquiles e Heitor, pela morte
de Pátroclo - com a exceção de que Mêmnon, ao contrário de Heitor,
também era filho de uma deusa.
Diversos estudiosos homéricos
argumentaram que o episódio teria inspirado diversos detalhes na
descrição da morte de Pátroclo, na Ilíada, e a reação de Aquiles a ele. O
episódio fazia parte então do Ciclo Épico, em especial da Aethopis
("Etiópica"), composta após a Ilíada, provavelmente no século VII a.C.. A
obra está perdida hoje em dia, e sobrevive apenas em fragmentos
esparsos citados por autores posteriores.
Como havia sido previsto
por Heitor, em seu último suspiro, Aquiles foi morto posteriormente por
Páris, com uma flecha (no calcanhar, de acordo com a versão de Estácio).
Em certas versões do mito, o próprio deus Apolo teria guiado a seta de
Páris.
Ájax carrega o corpo de Aquiles: lécito ático da Sicília, c. 510 a.C. (Staatliche Antikensammlungen, Munique).
Ambas as versões negam posteriormente a Páris qualquer tipo de valor
pelo feito, devido à concepção comum de que ele era um covarde, e não o
homem que seu irmão Heitor era - e, consequentemente, Aquiles teria
permanecido sem ser derrotado no campo de batalha. Seus ossos foram
misturados aos de Pátroclo, e jogos fúnebres foram realizados em sua
homenagem.
Aquiles também apareceu em outro épico perdido sobre a
Guerra de Troia, de autoria de Arctino de Mileto, como tendo vivido
ainda após a sua morte, na ilha de Leucas, na foz do rio Danúbio. Outra
versão de sua morte narra que ele teria se apaixonado profundamente por
uma das princesas de Troia, Polixena6 , e teria pedido sua mão a Príamo -
que consentiu com a união, pressentindo que ela simbolizaria o fim da
guerra e uma aliança com o maior guerreiro do mundo. Enquanto o rei
organizava os preparativos para o matrimônio, no entanto, Páris - que
teria de abandonar Helena se Aquiles se casasse com sua irmã,
escondeu-se em arbustos próximos a Aquiles e o matou com uma flecha
divina. Páris teria então sido morto por Filoctetes, com o arco e as
flechas de Héracles.
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