O Luciferianismo, não possuindo uma divulgação tão grande
quanto o Satanismo, ainda é muito desconhecido, e até mesmo mal interpretado
pela maioria das pessoas. Enquanto muitos o julgam como sendo uma religião das
trevas, na verdade não há título mais injusto do que este para ser-lhe
atribuído; isto porque esta filosofia é centrada na procura da Iluminação
(Divindade) pessoal através do caminho do conhecimento e da sabedoria. Que
religião obscura teria um propósito tão nobre?
O Luciferiano, adotando Lúcifer como seu referencial, almeja
alcançar as qualidades que este Ser representa, a saber: sabedoria,
conhecimento, orgulho, liberdade, vontade, desafio, independência e iluminação.
Ele está sempre procurando por seus limites para poder alcançá-los, e então
transcendê-los, sabendo que este é o único caminho para sua evolução. Nossa
essência divina não é algo pronto: ela está dentro de nós, mas precisamos
desenvolvê-la para que ela possa despertar. Devemos nos lembrar que somos os
únicos responsáveis por nossa própria evolução, e por isso outra característica
fundamental dos Luciferianos é a capacidade de discernimento. Afinal, embora no
Luciferianismo nada seja proibido, sabemos que nem tudo nos convém. Ao
realizarmos um ato, devemos estar preparados para suas conseqüências.
Uma questão que surge freqüentemente é o por que da
utilização de um nome que nos remete ao cristianismo, ao demônio cristão, já
que é defendido por todos os Satanistas, e conseqüentemente Luciferianos, uma
independência em relação a este conceito.
Há duas respostas possíveis, e ambas são verdadeiras.
A primeira, e primordial, é que apesar do cristianismo
utilizar-se do nome Lúcifer e Satã, como já foi visto anteriormente estes nomes
existiam independentes da citada religião, e por isso mesmo referem-se a seres
diferentes do demônio cristão. São arquétipos antigos, que carregam consigo,
apesar das distorções das quais foram vítimas posteriormente, toda a energia da
egrégora à qual pertenciam e o conjunto de idéias construídas e representadas
pelo seu nome originalmente.
Por este motivo Lúcifer e Satã têm que obrigatoriamente
serem tratados como entidades diferentes para que possamos entender a diferença
entre o Luciferianismo e o Satanismo. A diferença principal entre as duas
escolas de pensamento está diretamente relacionada à esta idéia particular que
cada nome possui embutido em si.
A segunda, utilizada por alguns satanistas, é o impacto que
este nome causa nos dias atuais. É um jeito de chamar a atenção no meio de
tantas informações, para então poder mostrar ao que verdadeiramente ele se
refere.
A principal diferença do Luciferianismo para o Satanismo é
justamente o enfoque na procura pela sabedoria, ao invés da oposição. Isso pode
ser facilmente percebido na análise dos nomes Lúcifer e Satã. Lúcifer vem do
latim Lux, Lucis = luz Ferre= portador, ou seja, o Portador da Luz, enquanto
Satan, de uma corrupção do nome do deus egípcio Set (Set-hen), em hebraico
significa Adversário. O Luciferianismo é exatamente um aprimoramento do
Satanismo, já que este é limitado em sua visão da evolução humana como
necessária ao alcance desta divindade.
Sendo o Luciferianismo uma religião profundamente subjetiva,
construída baseada nas experiências de cada um, e sendo ela mesma o fruto de
diversas influências, é comum aqueles que compartilham os princípios
Luciferianos incorporar a eles outras culturas, podendo estas tanto ser pagãs
ou não.
Isso refletiria em uma infinidade de denominações se o
aspecto utilizado para designá-las fosse as egrégoras e filosofias incorporadas
por cada um. Por este motivo o aspecto utilizado para classificar o
Luciferianismo é o modo como o praticante aceita a existência de Lúcifer.
Existem duas designações que embora sejam contrárias no referente a este
aspecto, compartilham das mesmas bases comuns ao Luciferianismo.
Eu adoto os termos Deísta e Agnóstico para designa-las do
que os termos Tradicional e Moderno, comumente utilizados no satanismo. Esta
escolha não implica apenas na intenção de uma diferenciação para ambas
filosofias, mas principalmente pelo sentido de cada um deles. Os primeiros
trazem em seu significado diretamente a idéia utilizada para distinguir uma
denominação da outra, o que não acontece com os segundos.
Além disso o termo tradicional e moderno nos leva a pensar
de maneira errônea a respeito da filosofia, se fosse aplicada a esta. O
Luciferianismo é ao mesmo tempo uma religião tradicional e moderna: tradicional
por ser construída em cima de filosofias passadas de geração a geração durante
séculos, e moderna por estar sempre em construção, não sendo algo pronto e
imutável.
O Luciferianismo Deísta
Os Luciferianos Deístas são aqueles que acreditam em Lúcifer
como um Ser, geralmente este identificado como sendo o próprio Cosmos, ou seja,
um Ser que está em tudo e que sendo pleno, de nada necessita.
É o "Deus dos inumeráveis números, que cria os próprios
membros, que são os deuses". A busca predominante do Luciferianismo está
no progresso do espírito humano, sendo que na denominação Deísta o final desta
jornada resultará no alcance da unidade indivisível de homem e Deus, condição
anterior e eterna. A filosofia de Plotino pode ser bem colocada aqui, já que
segundo ela o mundo emana de um deus primal (Lúcifer), através de graus e a Ele
se eleva e retorna.
Ao contrário do que se poderia pensar, então, não há um
culto a Lúcifer como a maioria das religiões cultua seus respectivos deuses.
Lúcifer não é apenas aceito como um deus acima dos homens, e por isso
inalcançável a estes, mas como um deus do qual carregamos a essência dentro de
nós. Lúcifer antes de tudo é cultuado no próprio adorador, pois ele acredita
que sendo uma emanação de Lúcifer, se torna UM com Ele.
Os rituais são de grande importância para os deístas. É
através deles que o praticante experimenta de forma mais profunda este contato
entre ele e o divino, vislumbrando o que ele mesmo um dia será através de suas
buscas.
O Luciferianismo Agnóstico
Para os Luciferianos agnósticos Lúcifer é aceito como um
arquétipo. Não há uma crença em um deus primal, sendo o homem visto como seu
único deus, seu próprio princípio e fim. Esta visão Luciferiana é claramente
influenciada pelo Satanismo Moderno iniciado por Anton LaVey, com a publicação
da Bíblia Satânica. É uma procura pelo verdadeiro "self" sem se
utilizar a idéia de alguma divindade por detrás dele, contendo aspectos
extremamente humanistas. A procura pela sabedoria neste caso também é com o
intuito de se tornar um deus no sentido de se tornar algo além do comum, seu
próprio Senhor através do conhecimento de si mesmo. A idéia de continuação de
uma vida após a morte não se encontra em uma suposta outra dimensão, e sim na
imortalidade de suas obras.
Não havendo a crença em algo além do aqui e agora, os
rituais realizados pelos agnósticos tendem a se concentrar apenas no princípio
do poder da mente para mudar fatos de acordo com sua vontade. Os próprios
rituais são colocados em segundo plano por serem utilizados apenas para este
propósito, em situações especiais que poderiam requerê-los.
No Luciferianismo Lúcifer jamais é interpretado como sendo a
personificação absoluta do mal. A aceitação de tal visão cairia necessariamente
na aceitação e validação do dogma cristão com suas alegorias sobre a existência
de um salvador externo ao próprio indivíduo, tão contrária da posição
Luciferiana sobre o assunto.
Tanto para os Agnósticos como para os Deístas, ele sempre é
visto como Aquele que possui em si todos os opostos, ambos se encontrando em
equilíbrio. O que são os opostos senão complementos de si mesmos? Por que
repudiar um e adorar a outro?
Talvez os opostos mais polêmicos sejam o bem e o mal, devido
à grande ênfase dada a estas forças por vários sistemas religiosos. O dualismo
é a maior prova da ignorância dos sistemas monoteístas, onde há conflito entre
a Luz e as Trevas, entre a carne e o espírito, onde o triunfo do deus do Bem só
ocorrerá após a eliminação do mal. Esqueçamos o conflito entre estas duas
forças, tão amplamente pregado por diversas filosofias. Pensemos ao invés deste
conflito em uma harmonia, que traga o equilíbrio ... estas forças existem e
podem exercer influência sobre nós apenas até serem confrontadas e conseguirmos
transcendê-las. O bem e o mal são dois aspectos de um só ato; estão presentes
dentro de cada um de nós e em toda a natureza. As polaridades antes de se
chocar, se atraem, acabando por se completar e levar ao equilíbrio, e é aí que
está sua importância. O homem não pode evoluir praticando apenas o bem, assim
como praticando apenas o mal. Isto porque o bem e o mal são relativos,
conceitos que mudam no tempo, em diferentes ocasiões e até mesmo de filosofia
para filosofia. Só conseguiremos reconhecê-los ao vivenciá-los. Nunca devemos
nos esquecer que todos somos seres únicos nesta esfera causal, assim como nas
próximas até atingirmos a esfera do equilíbrio e plenitude, e por isso
possuímos experiências, pensamentos, percepções e concepções únicas também.
Afinal "todo homem e toda mulher é uma estrela", e todas as estrelas
juntas formam apenas um ser maior, o Cosmos, ou o próprio princípio criativo.
O Luciferianismo não é uma religião fácil de ser vivida, ao
contrário do que muitos julgam. Esta é uma grande ilusão de quem se arrisca a
opinar sem ao menos tentar vivenciá-lo, já que o primeiro passo é romper com as
idéias e regras impostas durante séculos a nós. É preciso além de muita
determinação e força para se livrar destas amarras, se autoconhecer e ter
coragem de tornar-se seu próprio Deus. Não é uma religião para os covardes que
se escondem atrás de uma mentira, preferindo sufocar seus ideais e até mesmo
sua realização neste plano para obter a "segurança" de uma falsa
promessa.
Realmente é assustador assumir a responsabilidade da
construção de sua própria vida, saber que somos os únicos responsáveis por
nossos erros e acertos, por nossa tristeza ou felicidade, por nossa liberdade
ou escravidão. Talvez seja este o motivo que leva muitos a nos temerem e muitos
a nos respeitarem: o ser humano se acostumou de tal modo a viver na escuridão,
que quando presencia uma luz ou a teme ou a admira ao longe, sendo poucos os
que se arriscam a serem iluminados por ela.
O Luciferianismo é em geral transmitido oralmente e na
maioria das vezes praticado solitariamente. Poucos são os Luciferianos que o
praticam em grupo, devido ao subjetivismo inerente a esta filosofia. Apesar de
os princípios serem comuns a todos, o Luciferianismo só adquire realmente valor
quando o praticante deposita nele as verdades que pôde contemplar dentro de si,
sendo primordial descartar qualquer ponto que seja discordante com elas. Não é
uma religião que se preocupa em ser aceita pela maioria; ao contrário, prefere
se ocultar desta para que não ocorra nenhuma distorção de sua essência. Damos
mais valor a um pequeno grupo de praticantes do que um grande número de
"seguidores". Em nossa crença não há lugar para seguidores, e sim
para mestres, já que o único mestre de cada um é si mesmo.
Baseando-se neste pensamento é que toda ordem Luciferiana se
propõe apenas a mostrar ao iniciado o início do caminho... conhecê-lo realmente
e percorrê-lo, vai depender unicamente da determinação de quem é corajoso o
suficiente para conhecer a si mesmo, e tornar-se o seu próprio Deus.
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